11.8.25

Um sonho

 Com a democracia pendurada no pau de arara e assim exibida em praça pública, sonhei que havia morrido. Morto, passei por toda a preparação: da limpeza do corpo à vestimenta, da acomodação no caixão ao transporte em carro funerário. O interessante é que, mesmo tendo partido dessa para a outra – quem saberá se é a melhor? –, eu tinha consciência de tudo. Olha só, me vestiram um terno! Ó, até que não é tão desconfortável essa urna! O ápice viria a seguir. Deixado no local do velório, levantei-me, dirigi-me a um sujeito que não parecia estar ali por minha causa e dei-lhe um belo soco na cara. A vítima era ninguém mais, ninguém menos que o torturador máximo da democracia: Trump. O que poderia parecer um pesadelo, era, de fato, uma vingança velada: uma quimera.

Os psicanalistas que me desculpem, não analiso esse sonho a partir de minhas suscetibilidades ou de meus desvãos, mas sim como homem político. Precisamos dar um soco – a minha índole pacifista clama para que o entendam como metáfora – no senhor Laranjinha e passar uma rasteira nessa turma que, empunhando Bíblia, fala sozinha pelo plenário do Congresso ou, agindo como jovens inconsequentes, arma um escarcéu na casa da democracia. Uma vez caída no chão, ordenar que recolham ao lixo essa nata do atraso.

Estamos diante de um velho fantasma, o fascismo, num mundo turbinado por inovações tecnológicas. Lutar nesse ambiente é o desafio. Seja como for, penso que meu sonho quer dizer que o velho homem humanista, na pele do eu defunto do sonho, não pode aceitar a própria morte, deve levantar-se do caixão e partir para a luta.

Como lutar é que é o negócio. Protestar nas ruas parece estar fora do catálogo político, nesses tempos de ágora eletrônica, que, aliás não é isenta e do povo, como a Castro Alves na Bahia carnavalesca. A e-praça tem lado, o deles.