O prédio é imponente, arquitetura arrojada. O negócio lá dentro é papa fina, nada menos do que o ouro negro. Quem viveu nos anos 50 ou leu sobre eles sabe muito bem que a exploração de petróleo, em forma de monopólio do Estado, já deu muito pano pra manga neste país. Quando aqui era a capital federal, lutávamos por essas causas; hoje, hoje bradamos contra o IPTU. Aliás, não contra o IPTU, nosso alvo é o prefeito, ou, mais corretamente, sua péssima gerência no mandato que encerra neste ano.
Embates grandes ou miúdos, pouco importa, o carioca é bom de briga, o prefeito que se cuide. Que se cuide também a direção da estatal do petróleo, pois os aposentados andam fazendo uma zoeira bem ali de frente para o belo prédio e de costas para o BNDES, o que não sei se tem ou não tem significância. O que sei é que há muito acompanho os aposentados mandando bala. Não vi, mas até nus ficaram; no meio da rua, digo.
No Natal, teve Papai Noel. No carnaval, banda cantando marchinha que enaltecia a classe dos petroleiros e ameaçava o presidente e todo o resto da diretoria. Contra ou a favor da causa, se é que chega a ser uma causa, vale ver o show dos aposentados. Não são muitos, mas estão ali; se for preciso, se despem. É uma causa, acabo de me convencer, ninguém se despe a troco de nada.
No fim de janeiro, a banda explodia em sopros que faziam desenhos melódicos supimpas. Parecia que tudo ia por água abaixo, o sax tomava um rumo, o trombone de vara outro, mas no fim tudo se ajeitava. (Adoro isso.) Bem, a marcha corria solta, e uma senhorinha aposentada, que vejo sempre nas manifestações, começou a dançar; mais parecia porta-estandarte — sem o mestre-sala, sem ninguém. Se fosse adepto das adjetivações fáceis, diria que ela é meio lelé da cuca. Não sendo, digo que carrega em si tamanha liberdade. O presidente da empresa deveria dar pelo menos a ela o que se reivindica à porta de seu escritório.
A porta-estandarte dava suas voltas e reviravoltas sem que ninguém prestasse muita atenção nela. Menos duas pessoas: eu, sei lá por que eu, e um rapaz (mal saído do cueiro) cujo olhar sugeria outras intenções. Se fosse adepto das adjetivações fáceis, diria tratar-se de um taradinho. Não sendo, digo que se encantou, nunca vira nada parecido. A beleza pode estar onde nem parece estar.
No fim de janeiro, a banda explodia em sopros que faziam desenhos melódicos supimpas. Parecia que tudo ia por água abaixo, o sax tomava um rumo, o trombone de vara outro, mas no fim tudo se ajeitava. (Adoro isso.) Bem, a marcha corria solta, e uma senhorinha aposentada, que vejo sempre nas manifestações, começou a dançar; mais parecia porta-estandarte — sem o mestre-sala, sem ninguém. Se fosse adepto das adjetivações fáceis, diria que ela é meio lelé da cuca. Não sendo, digo que carrega em si tamanha liberdade. O presidente da empresa deveria dar pelo menos a ela o que se reivindica à porta de seu escritório.
A porta-estandarte dava suas voltas e reviravoltas sem que ninguém prestasse muita atenção nela. Menos duas pessoas: eu, sei lá por que eu, e um rapaz (mal saído do cueiro) cujo olhar sugeria outras intenções. Se fosse adepto das adjetivações fáceis, diria tratar-se de um taradinho. Não sendo, digo que se encantou, nunca vira nada parecido. A beleza pode estar onde nem parece estar.
Manifestações recorrentes tendem a surtir efeito. Minha torcida é que um dia, cansado de marchinhas no carnaval, fogueiras no São João, papais-noéis no Natal, o presidente do BNDES ligue para o do Banco Central e sugira que se acelere a queda dos juros. Por que motivo ele faria isso? Ora, sei lá, nem tudo o que se faz se explica. Se o todo-poderoso, guardião do nosso real, aceitar a sugestão, pode ser que sobre mais dindim no caixa da estatal do ouro negro e que seu presidente, também cansado de tantas manifestações, atenda o pedido dos aposentados. Não deve ser muito, com a idade ficamos modestos.
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