Mariquinha do
Fubá
Ô, Mariquinha do Fubá,
se eu pedir você me dá a mão e me consola. Diz pra mim: “Menino, não tenha
medo, o escuro dura um segundo, passa logo”. Lá de trás da bananeira, é, Mariquinha
do Fubá, a gente pode mirar o resto do mundo e rir dos que levam tudo tão a
sério. O prefeito carrancudo, a dona de casa para quem, se a roupa não seca, a
vida acaba. O professor que não entende a ironia do Joãozinho lá da classe dele.
Se eu pedir você me
dá, Mariquinha do Fubá, a misericórdia por eu me assustar tanto com a
fanfarrice dos dias que nascem mansos, passam em tempestades pela hora do
almoço e dormem de lua cheia?
Se você me dá mão e
misericórdia, vou andar de bonde com meus sustos. Em cada susto, rabisco um
desenho. Em cada susto, alinhavo um poema. Em cada susto, em vez de envelhecer,
fico eterno — ou tento.
Você me dá, ô, Mariquinha
do Fubá?
Da
Independência
Japonês tem quatro
filhos, todos quatro nascidos no lajeado. O primeiro é filho de búlgara, o
segundo de uma que quase transformou o japa num desgraçado. O terceiro nasceu
prematuro e o quarto foi adotado. Vivendo sua terceira viuvez, depois de
crescidos os filhos, o japonês largou as beiras do lajeado, berço de pedra de
sua prole, e se mandou pra capital. Tentou ser meganha, a idade não permitiu. Arriscou-se
como compositor, suas rimas não caíram no gosto da plateia. Foi boxeador até levar
o primeiro soco. Acabou, como muitos, no informal; no caso dele, no ilegal.
Passou a contrabandear. No circuito Uruguai, Paraguai, Argentina, Bolívia, Peru,
Colômbia e Venezuela, tirou seu ganha-pão. Dali trazia um cadinho da felicidade
guarani, outro da felicidade dos descendentes de Tupac Amaru, outro da cota dos
guerrilheiros da selva amazônica e até mesmo um pouco daquela que persiste no
coração dos descontentes com Hugo Chavez. Distribuía gotas de felicidade nos
quatro cantos do Brasil. Para trabalhar, corrompeu. Escondeu-se. Um dia foi
preso. Em defesa do réu, o rábula, contratado por alguns clientes desacorçoados
com a abstinência forçada, não poupou palavras: “Esse homem, ceteris paribus, compôs o hino de nossa
independência, posto que, sem felicidade, não há nação”. Talvez por não
compreenderem o latim e o português da defesa, todos no Palácio da Justiça
fecharam os olhos diante de tal argumento. O japa percebeu que, estando cega a
justiça, bastava andar na ponta dos pés, porta afora, aeroporto afora, Brasil
afora. No debate que se seguiu à fuga, jornalista armado de ironia bradou em
sua coluna: “Ficou a pátria livre sem que ele (o contrabandista, bem entendido)
morresse pelo Brasil”. Especula-se que hoje o japonês, que tem quatro filhos,
todos quatro nascidos no lajeado, é monge tibetano numa terra de homens coxos
nas barbas do Arzeibaijão.
2 comentários:
kkk adorei....mas do hino eu conheço uma outra versão......assim....japones tem 4 filhos......todos 4 aleijados...o primeiro é barrigudo....e por ai vai......adorei..beijos
Denise, era esse hino que eu tinha na cabeça, mas resolvi dar uma mexida, uma refinada, detalhes, detalhes.
Postar um comentário