Estamos
na época de digitar o voto na urna eletrônica — orgulho tecnológico que deixa
muita gente com a pulga atrás da orelha — e
apontar nossos futuros prefeitos e vereadores.
Elegemos
no plural, mas o meu ou o seu candidato podem muito bem passar longe, bola
chutada pra fora do estádio. Ele ou ela terão ideias próprias e, por essa razão,
serão derrotados? Ou ela ou ele não passarão de fanfarrões corretamente
sepultados pelo voto, ou melhor, pela falta de voto?
Democracia:
esfinge que, quanto mais deciframos, mais nos devora. Sem democracia não viria
à tona a voz das minorias, dos marginalizados ou dos que, persuasivos, opõem-se
à situação. Mas, na democracia, elegem-se os que têm tutu à beça ou os que,
mesmo não o tendo, acercam-se dos que têm. A aliança circunstancial serve bem
no dedo de quem não se presta a casamento duradouro, de quem gosta das festas
do matrimônio e, mais ainda, dos divórcios, porta que se abre para nova
conquista.
Não é
jabuticaba, fruta que viceja apenas em nosso solo gentil. Vejam a eleição
americana (se aproximando) ou a francesa (recém-acontecida): nelas também o
dindim é o diapasão que orienta a orquestra. Lá e cá, orquestra na qual tocam
célebres artistas ao lado de burocráticos leitores de pauta. Péssima metáfora,
os burocráticos leitores de pauta fazem mal ao ouvido e sensibilidade alheios; por
sua vez, os maus políticos subtraem os instrumentos da orquestra e deixam o verdadeiro
artista preso à pantomima. Por isso encontramos muitos spalle pelas ruas passando o arco invisível no violino igualmente
invisível.
Democracia
não é apenas o espetáculo do sufrágio universal. Esse é o momento de sua
celebração. Democracia é também o ciscar da galinha, quero dizer, a coisa
simples da vida comezinha. É minha relação com meus filhos, e a deles com seus
professores. E a dos professores com seus superiores. É o respeito aos mais
velhos, aos mais pobres. É a convivência com a diferença. É a discussão de
ideias. É, ainda, a possibilidade de termos todos as mesmas oportunidades.
Como a
democracia se fixa também na dinâmica do corriqueiro, podemos atuar com mais desembaraço
em sua consolidação. Contraditoriamente, maldita esfinge, é justamente esse o
espaço de maior dificuldade, pois temos de brigar com nossos preconceitos mais
arraigados.
Meter o dedo na máquina é fácil, viver
democraticamente é que são elas.
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Luís Giffoni, escritor mineiro que faz o programa "Livro no Ar" pela Bandnews de BH, falou de meu "No Osso: Crônicas Selecionadas". Quem quiser ouvir seu comentário certeiro, de menos de 2 minutos, clique aqui.
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Luís Giffoni, escritor mineiro que faz o programa "Livro no Ar" pela Bandnews de BH, falou de meu "No Osso: Crônicas Selecionadas". Quem quiser ouvir seu comentário certeiro, de menos de 2 minutos, clique aqui.
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