Fazendo perguntas ao modo de Neruda
Você poderia me dar um silêncio de seu tempo?
Por que os
cegos fecham os olhos ao recordar?
De vinte em
vinte a gente ultrabraça o intocável?
Com quantas
palavras é possível navegar um minuto?
Por que o
riso fuma maconha?
Vovó contraiu
o diabetes num beijo mal dado?
O que não
estou vendo é uma chuva que brota do chão?
Quando me
distraio eu roubo a alegria dos beduínos?
O dia brigou
com a morte?
Aquele
relógio estava desesperado?
A cor da
ilusão esgana?
No céu, a
terra é um esquecimento?
Os urubus
salgam os próprios voos?
Se uma
palavra for elevada ao quadrado nós nos entenderemos menos ainda?
Posso morrer
depois de passar o café?
Você está
rindo pra onde?
É possível
acender cigarro em ovo?
As gotas
invejam a enxurrada?
Alguma mulher
pelada tentou entrar numa revista esquecida no banheiro?
O que pensa o
escocês que só me viu em sonhos?
Dois e dois reconhecem
algo além da matemática?
Do lado de lá
dói?
O que o
cansaço diria ao tempo?
Você poderia
me dar um minuto do seu temperamento?
A função social
do homem é prender o choro?
Qual o melhor
remédio para não se curar de nada?
A histeria
conhece os canais de Veneza?
Por que o mar
não nos conta tudo?
Todas as
palavras são inconstantes?
A sujeira tem
saudades do esfregão?
O que meu pai
fez com o não de minha mãe?
O sol também
sabe?
O buraco da
fechadura mede o poder que transfere aos olhos do curioso?
Se essa rua
fosse minha eu seria menos órfão?
Chegaremos a
tempo de adiar a noite?
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