Certa vez, li um comentário do Verissimo sobre moda. Segundo
ele, desde sua primeira calça comprida sempre usou o mesmo modelo, e, assim, de
vez em quando, estava na moda e, de vez em quando, fora.
O que está por trás da percepção do cronista é que não somos
tão criativos, de modo que a novidade de hoje já foi novidade ontem. Nessa
passada, não demorará muito e teremos mulheres com perucas de cabelos bem lisos
ou com coques esculturais (Winehouse bem que tentou), uma febre dos anos de
1960. Estamos vendo o black power de
volta, o que comemoro, pois não é um simples modo de os negros se verem ou se
mostrarem bonitos, também é um jeito de serem potentes.
Esta crônica não é um ensaio sobre moda, suas idas e vindas,
seus altos e baixos. Quem sou para saber disso? Não saio do jeans com camisa,
em dias de trabalho, ou com camiseta, nos fins de semana. Ou seja, tornei-me um
conservador à maneira de Verissimo. Se não é isso, o que é então? É essa
história de vai e vem.
Se acontece com as roupas, com as ideias não é muito
diferente. Quem diria que a castidade resistiria à revolução sexual da segunda
metade do século XX? E ela está aí, meio na moita, mas não tanto. Tudo bem, é
um exemplo besta, dou outro: a incivilidade. Ao longo da história, nosso país
fez um quase completo genocídio dos índios, fez da escravidão, com crueldade, a
forma de viabilizar a economia colonial e torturou sem cerimônia em suas
ditaduras recorrentes, então nada mais natural que houvéssemos evoluído,
entendido nossos erros e, a partir deles, estabelecêssemos novos limites de
ação política. Visões de mundo distintas, tudo bem, mas, incensar torturadores,
reciclar ideias caducas (por exemplo a de que a homossexualidade é uma doença
ou um desvio de caráter ou de que não há o aquecimento global), inverter o
sentido de nossa dívida histórica (quem deve é o índio, “com terra demais”, e os
negros, “com a mamata das cotas”) já é um descalabro.
Vovô, aquele saudosista, abre o sorriso e balbucia na sala: “Até que enfim”. Quer dizer, balbucia num dia, fala alto e com as paredes no outro, no fim está discursando na mesa do almoço de domingo. Trágico: o neto aplaude e reproduz.
Vovô, aquele saudosista, abre o sorriso e balbucia na sala: “Até que enfim”. Quer dizer, balbucia num dia, fala alto e com as paredes no outro, no fim está discursando na mesa do almoço de domingo. Trágico: o neto aplaude e reproduz.
A boçalidade voltou à moda.
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