18.1.21

Leitores reclamam de falta de limpeza no Terminal Rodoviário

Joca precisava chegar a Guaxupé no final do dia. Haviam dito para ele que não existia viagem direta, que deveria tomar um ônibus até Ribeirão Preto ou Alfenas e de lá ir para Guaxupé. Uma viagem que de carro levaria uma hora e meia, por aí, de ônibus se transformaria sabe-se lá em quanto tempo. Oito horas? Joca tocou na mochila para ter certeza de que o livro estava lá. O livro.
Renatinho, por sua vez, iria a Belo Horizonte. Comprara passagem para o meio-dia, seu compromisso era na próxima manhã. Viajaria com tempo. De todo modo, precavido, chegou à rodoviária bem cedo, com duas horas de antecedência. Renatinho tocou na mochila para ter certeza de que o livro estava lá. O livro.
O terminal rodoviário não é muito grande, e em um dia de movimento inesperado, Joca e Renatinho acabaram se sentando no mesmo banco.
Joca tirou o livro da mochila.
Renatinho tirou o livro da mochila.
O livro de Joca era de um autor europeu.
O livro de Renatinho era de uma autora nacional.
Procurando ser discreto, Joca esticou os olhos para ler o título do livro de Renatinho.
Como Renatinho fazia o mesmo, os olhares se encontraram. Ficaram um pouco encabulados. Um e outro ficaram bem encabulados.
Joca lia um livro de Ian McEwan, Na Praia.
Renatinho lia um livro de Raquel de Queiroz, O Quinze.
Joca não conseguiu ver que livro era que Renatinho lia.
Renatinho não conseguiu ver que livro era que Joca lia.
No entanto, o encontro do olhar de um com o outro não deixava margem para que não se dissesse alguma coisa. Era inevitável, era obrigatório até.
Foi Joca que se adiantou. Ele disse:
— Como está sujo o terminal. E Renatinho quase repetiu a frase:
— Sim, como tudo está tão sujo.
Joca levantou-se, foi ao banheiro. Renatinho levantou-se, foi à lanchonete.
Depois, sentaram-se em bancos diferentes e foram ler seus livros.

Joca não chegou a tempo a Guaxupé. Renatinho chegou com tempo de sobra a Belo Horizonte, mas, ao sair para o compromisso, desistiu dele.

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