30.12.09
Versos Íntimos - Augusto dos Anjos
12.12.09
Um Natal
2.12.09
Novo Blog Amigo
Vale a visita.
10.11.09
Notícias
Primeira: vocês podem conferir uma entrevista minha para a Ana Cristina Melo, aqui. Ana Cristina tem cuidado bem dos novos escritores brasileiros, e ela é também um desses.
Segunda: dia 11, em BH, a partir das 18 horas, na Livraria do Pátio Savassi (Av. do Contorno, 6.061, lj 235, São Pedro), lançamento de "O Espelho de Volódja", de Eduardo Filizzola. Vale a pena conferir.
3.11.09
À espera de um carnaval temporão
8.10.09
Hoje, o que sei da poesia
23.9.09
Nova Resenha de "A câmera e a pena"
O jornalista Nelson Vasconcelos fez uma belíssima resenha de meu livro. Confira aqui.
E vamos que vamos.
11.9.09
Brasil – il – il – il
(bigode retirado de: http://justwrappedupinbooks.wordpress.com/2009/08/02/sob-o-dominio-do-bigode/)
Neste exato momento, não consigo dar um exemplo concreto, mas arrisco a dizer que, do cronista maior ao cronistinha de uma figa, todos, quando tropeçamos, tropeçamos da mesma forma.
Isso não quer dizer que o talento se iguale nesse instante de fracasso. Um tombo de um Drummond tem o estilo do poeta; o meu, por sua vez, é só a queda desse corpanzil que cresceu, apareceu e ficou feiinho, feiinho.
Porém, neste país, assunto é o que não falta. Podem jogar os parágrafos anteriores fora, não servem pra nada.
Giro minha câmera pro Senado. Não, aí é covardia, e tenho poucas linhas, espaço insuficiente pra dizer tudo que está borbulhando por lá. De todo jeito, só de relance, vi aquilo que meus olhos preferiam não ver.
Vamos pra outro lado. O pessoal da cultura tem trabalhado com nota fria? Oh, meu Deus, que novidade! Só na cultura, é? Será que somos chegados a um desvio ou o sistema é que joga todo mundo no limbo? Deixa isso pra lá, mal saiu a notícia no jornal, no outro dia já se dizia que as empresas tomaram juízo, está tudo resolvido, uma beleza. Sou a velhinha de Taubaté que, depois de ver tantas sarneiras, ficou cega — de nascença.
Meninas passam pra cá, passam pra lá. Passam pra lá, passam pra cá. São pêndulos de relógios? Marcam que espécie de tempo? Essa crônica bem poderia chafurdar no lirismo, ficar na cola da beleza, ou falar do Nadinho da Ilha, que morreu dia desses, mas...
A gripe suína está tirando todo mundo do sério. A gente anda com tanto medo, que esconde espirro, quando não prende. Tente espirrar
Seria bom viver num país em que faltasse assunto pra crônica! Eu poderia fixar-me no pêndulo desenhado pela beleza das meninas, homenagear o Nadinho, com quem dividi alguma mesa de bar e de quem vi o talento em ação, ou falar da Serra da Canastra (veja a foto). Lá, o São Francisco nasce chiquito, chiquito. Ao contrário dos problemas do Brasil, que nascem grandes e ficam enormes.
Não tenho medo de cara feia, mas acho que o Pedro Simon fez bem em ter.
29.8.09
A câmera e a pena está por aí
No Rio, pode ser encontrado na Livraria Travessa, numa de suas lojas.
Aproveito para sugerir um site bacaninha, e não só porque já falou do meu livro, mas é legal mesmo, feito por uma moça antenada com a nova literatura. Clique aqui e chegue lá.
Lá no final do blog, tem uma ferramenta nova: um siga-me. Quem quiser botar a cara e dizer que acompanha as osseosidades aqui fique à vontade. Meu amigo, Udo, de Alemanha, vejam só, já está.
Por fim, agora resolvi botar umas frases no twitter. Roubo algumas de feras, invento algumas. Não são diálogos, falo sozinho. As frases transbordam pra cá, bem no canto superior esquerdo do blog.
Abraços,
11.8.09
Na Trave

Bem sei, leitor, você bate os olhos neste mensário, em particular nesta coluna mal vertebrada de nome “No Osso”, à procura de distração. Acho até que está preparado para encarar uma temática, digamos assim, menos solar, afinal de contas estamos no Brasil e refletimos sobre ele, sobre suas mazelas. Porém não sei se suportará minha conversinha mole de hoje.
Na realidade, escrevo para diminuir minha carência, para desabafar. Não tendo terapeuta, uso e abuso de sua boa vontade. Não me abandone, por favor. Não agora. Pode ser que daqui a pouco minha dor se mostre apenas uma indisposição, algo passageiro. Se for, pronto, oras, você terá me ouvido, e tudo terá passado. Uma boa ação sua. De meu lado, ao falar, vou me curando, é assim que funciona a coisa desde sempre, como bem sacou o velho e bom Freud.
Estou meio sem jeito. Para falar a verdade, sou caladão; não falo, tartamudeio. Já que você foi alçado ao posto de terapeuta ou confessor, uma de suas obrigações é ser paciente, embora seja eu o paciente. Esta frase, mesmo não sendo boa, me remete a Campos de Carvalho. Posso fazer uma digressão?
Sujeitinho competente o Campos de Carvalho. Quem o conhece não se surpreende com a afirmação. Quem não, não perca tempo com cronistas menores, vá a uma livraria (há tantas e boas na cidade) e adquira o livro com todos os seus romances que saiu pela José Olympio, ou compre-os um a um, pois a mesma editora os está lançando separadamente agora. Voltando à digressão, esse autor mistura de tal jeito os estados de loucura e de lucidez — qual a diferença entre um e outro mesmo? —, criando personagens que transitam entre esses mundos paralelos, que eu diria, sem medo nenhum: Campos de Carvalho descobriu não a origem da vida, mas, sim, o sentido dela. E a julgar por ele, a vida é realmente sem sentido nenhum, o que, aliás, aumenta nosso compromisso com ela, fazendo-nos aceitar seus caprichos.
Digressão? Estou fugindo. Vamos ao ponto. Leitor, o fato é que nunca fui bom de bola. Já me ocorreu de, num teste no infantil do Esportivo, jogando de ponta direita, driblar o lateral, entrar na diagonal, driblar o beque e, cara a cara com o goleiro, chutar para fora. Uma decepção. Para a torcida e para mim. Quando nos decepcionamos conosco mesmo o nome é frustração.
Segue daí... O quê? Como assim, acabou?
Tempo lógico? Era o que faltava. Você não é o Lacan, nem meu analista você é, oras!
Pena, logo agora que encontrei o elo perdido de tantas dores.
8.8.09
Resenha de "A câmera e a pena" no JB
14.7.09
Tudo num dia

Faltei à ginástica — o cansaço, amigo, o cansaço. Mas a vida é assim: aqui se perde, logo ali se ganha. Cheguei ao trabalho, por conta dessa preguiça matutina, numa hora diferente da habitual.
A última rua que teria de atravessar antes de acomodar-me à cadeira e pelejar com (ou contra) papéis, reuniões e gente — gente, sim — é dessas grandotas, com uma ilha entre as duas calçadas.
Eu estava num dos lados da rua. No outro, havia um casal cuja mulher levava um bebê deitado nos braços. Na ilha, um senhor. O sinal de trânsito, de três tempos, abriu de tal modo que o casal pôde ir para a ilha. O senhor, que poderia ter seguido para o outro lado, manteve-se onde estava. Especulo que esperasse a aproximação do casal, pois foi só ficarem mais próximos para o senhor depositar sobre a criança o olhar mais suave e sublime de que me recordo de ter visto nos últimos tempos. Enquanto admirarmos com encantamento a vida que é apenas potencial haverá esperança de dias melhores.
Veio a hora do almoço, e não vi nada de extraordinário. Isso, cá entre nós, é o comum da vida. Esbarramos com pessoas correndo de um lado pro outro, algumas defendendo seus trocados, outras atrasadas para um encontro amoroso, umas tantas tristonhas por alguma das muitas razões existentes para entristecer a gente, e não há nada nelas de especial, pois não dão na pinta o que faz mover seus passinhos da hora.
Em Copacabana, já à noite, precisava fazer hora antes de encontrar minha família num restaurante em que comemoraríamos o aniversário da Bia. Desci na Barata Ribeiro e, distraído, entrei na Figueiredo Magalhães. Não era o que planejara, queria mesmo ir à Modern Sound, aquele pedaço de mau caminho onde minhas finanças costumam sofrer abalos comparáveis a esse que anda rondando a GM, com uma pequena diferença: não tem Gordon, nem Lula, muito menos Obama que se proponham a me salvar. Bem, entrei na Figueiredo e ia matando o tempo com passadas de gente cansada quando minha audição alcançou o choro de uma mulher. Chorava e dizia, em alto e bom tom, alguma coisa como “aquele maldito, safado de uma figa”. Uma mulher que ama demais? Uma mulher desrespeitada? Doidinha? Não sei, não sou de palpites. O mundo ainda faz as pessoas sofrerem de amor, é tudo que posso dizer, e a partir dessa constatação afirmo: se os sofrimentos humanos fossem apenas amorosos, o mundo, esse bicho, seria tão melhor do que é. O mundo seria manso.
Encontramos a Polonesa ocupada por um grupo pra lá de ruidoso, que se esparramava por todo o ambiente. Bia quis ir embora. Mas apostamos em não desistir, a turma não demorou muito a cair fora, e ficamos com o restaurante todinho nosso. Comemos nababescamente, coroando a noite com aquele viciante suflê de chocolate.
E o Flamengo, tadinho, se desclassificou na Copa do Brasil.
O Fluminense também.
Caí na cama, capotei no sono, mas esse dia não saiu de mim. Nem sairá.21.6.09
Não se deve dar as costas aos poetas

Escrevi a última crônica (No Jardim Botânico). Saiu na revista Folha Carioca, depois veio para a internet (neste blog e também no Opinativas). Recebi elogios, inclusive de dois poetas. Um lá do Pará, meu amigo Edson, sujeito que está prometendo aterrissar aqui no Rio em fevereiro — demora, mas é menos do que nunca, ou mesmo de um não sei quando. Outro foi o homem que orelhou meu último livro, o danado do Barreto (que tem tantos nomes quanto prêmios literários – ora é Barretúmero, ora é Barretim, ora Seu Barreto, ora Barrevento, ora, bem, leitor, já deu pra entender a idéia, não? Invente o nome que quiser para o grande poeta que ele é. Para quem não sabe, ele está ali na foto comigo).
O fato de ter escrito este post tem a pretensão de mostrar duas coisas. Uma: minha caminhada no Jardim Botânico fez bonito. Outra: escrever é reescrever, e feliz daquele que tem leitores sensíveis e atentos. Ando tendo.
No Jardim Botânico – versão corrigida
Uma caminhada no Jardim Botânico equivale a uma sessão de yôga, ou de yoga como se dizia no tempo em que eu não sabia exatamente que sexo poderia gerar filhos — sabia, mas não acreditava.
Uma caminhada no Jardim Botânico num dia não muito ensolarado, tampouco fechado, pode deixar na gente — na memória que teremos no futuro, quando nossos filhos forem eles mesmos senhores e senhoras com vidas próprias e, se Deus quiser, independentes e bem encaminhados — algum gostinho de felicidade tão carregado, que poderemos mesmo imaginar que fomos, dentro e fora do Jardim Botânico, felizes, completamente felizes.
Pisar descalço o chão do Jardim Botânico, como vi um jovem fazendo no último domingo em que estive por lá, deve ser o grito mais veemente que conseguimos dar contra a tendência do mundo em nos distanciar da terra, do fogo, da água e do ar. Aquele rapaz, garanto sem conhecê-lo, sabe ser feliz quando quer: basta tirar os sapatos e pisar a terra úmida do parque.
Sentar num banco do Jardim Botânico numa manhã de maio, em pleno domingo das mães, ao lado da irmã, pode apaziguar as dores que sozinhos, o irmão e a irmã, não suportariam mais ter. As árvores dali, estrangeiras e nacionais, entendem dessa coisa de despoluir até o espírito mais sombrio.
Depois de uma caminhada que levou o desempregado à estufa das plantas carnívoras e a debutante, um pouco cansada, à beira do lago das vitórias-régias, a bica, pequena e elegante peça de metal bem aducido e corretamente coado, dará água fresca a quem já tem, a sua volta, toda espécie de sombra. Não vai nesse gesto do bebedouro nenhuma intenção de iludir o desempregado ou a jovem pensando-se vítima do maior cansaço do mundo, mas, fresca e fluida, a água ensinará sem querer que a generosidade mata a sede quando não escorre pelas mãos.
Pais e filhos, concebidos ambos na brasa do desejo ou na assepsia dos laboratórios, jogam folhinhas no riacho e vão correndo ao lado acompanhando aquela corrida de Fórmula 1 vagarosa e vegetal. Há uma bateria, depois uma segunda, e haverá outras até que a criança saia dali campeã. No Jardim Botânico, a simplicidade é sempre verde e imatura.
Vez ou outra o chão ficará enlameado. Vez ou outra alguma árvore o vento derrubará. Vez ou outra os esquilos cairão viciados
Vez ou outra um cronista menor compreenderá o mundo dinâmico que, entre ramagens, águas, pessoas e aves, o silêncio do parque guarda.
18.6.09
No Jardim Botânico
Uma caminhada no Jardim Botânico equivale a uma sessão de yôga, ou de yoga como se dizia no tempo em que eu não sabia exatamente que sexo poderia gerar filhos — sabia, mas não acreditava.
Uma caminhada no Jardim Botânico num dia não muito ensolarado, tampouco fechado, pode deixar — na memória que teremos no futuro, quando nossos filhos, filhos de nossas relações sexuais ou não (pois hoje já não se faz filho apenas com relações sexuais), forem eles mesmos senhores e senhoras com vidas próprias e, se Deus quiser, independentes e bem encaminhados — algum gostinho de felicidade na gente tão carregado, que poderemos mesmo imaginar que fomos, dentro e fora do Jardim Botânico, felizes, completamente felizes.
Pisar descalço o chão do Jardim Botânico, como vi um jovem fazendo no último domingo em que estive por lá, deve ser o grito mais veemente que conseguimos dar contra a tendência do mundo em nos distanciar da terra, do fogo, da água e do ar. Aquele rapaz, garanto sem conhecê-lo, sabe ser feliz quando quer: basta tirar os sapatos e pisar a terra úmida do parque.
Sentar num banco do Jardim Botânico numa manhã de maio, em pleno domingo das mães, ao lado da irmã pode apaziguar as dores que sozinhos, o irmão e a irmã, não suportariam mais ter. As árvores dali, estrangeiras e nacionais, entendem dessa coisa de despoluir até o espírito mais sombrio.
Depois de uma caminhada que levou o desempregado à estufa das plantas carnívoras e a debutante, um pouco cansada, à beira do lago das vitórias-régias, pequena e elegante peça de metal bem aducido e corretamente coado, a bica dará água fresca a quem já tem, a sua volta, toda espécie de sombra. Não vai nesse gesto do bebedouro nenhuma intenção de iludir o desempregado ou a jovem pensando-se vítima do maior cansaço do mundo, mas, fresca e fluida, a água ensinará sem querer que a generosidade mata a sede quando não escorre pelas mãos.
Pais e filhos, concebidos ambos na brasa do desejo ou na assepsia dos laboratórios, jogam folhinhas no riacho e vão correndo ao lado acompanhando aquela corrida de Fórmula 1 vagarosa e vegetal. Há uma bateria, depois uma segunda, e haverá outras até que a criança saia dali campeã. No Jardim Botânico, a simplicidade é sempre verde e imatura.

Vez ou outra o chão ficará enlameado. Vez ou outra alguma árvore o vento derrubará. Vez ou outra os esquilos cairão viciados
Vez ou outra um cronista menor compreenderá o mundo dinâmico que, entre ramagens, águas, pessoas e aves, o silêncio do parque guarda.
12.6.09
"A câmera e a pena" em novas livrarias
Quixote Livraria e Café
Rua Fernandes Tourinho, 274 - Savassi
Café da Travessa
Status Café Cultura e Arte
Literárea
Rua Marquês de Abrantes, 177 - Loja 107 - Flamengo
19.5.09
Mais uma livraria no Rio de Janeiro tem "A câmera e a pena".
De segunda à sexta-feira das 9:00h às 20:00h, e aos sábados de 11:00 às 17:00 h. Telefaxes: (21) 2220-8471 ou 2524-7242. E-mail: musica@arlequim.com.br Endereço:
| ||
15.5.09
Livrarias que já têm "A câmera e a pena" (Ed. Cais Pharoux)
Rua do Catete, 311/sobreloja
Galeria do Cinema São Luiz
Lg. do Machado - Rio de Janeiro – RJ
Tel./Fax: (21) 2205-5330
Leonardo Da Vinci Livraria
Rua do Catete, 153 – Museu da República
22220-000 Catete Rio de Janeiro RJ
Tel.: (21) 2556-5828
Fax.: (21) 2233-6845 e Cel.: (21) 9379-0255 – Glaucio
http://www.
Em breve o livro estará em outras livrarias, inclusive fora do Rio de Janeiro.
9.5.09
Onde Encontrar "A câmera e a pena"?
Enterrei uma crônica

“Dorme, dorme
Meu pecado
Minha culpa
Minha salvação.” (Mãe, Tom Zé e Elton Medeiros)
Ou então:
“Menina, amanhã de manhã
quando a gente acordar
quero te dizer que a felicidade vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens.” (Vai, dos mesmos Tom e Elton)
26.4.09
Em torno de uma xícara de café
Leocádia e o Amor
a Clara Limpes
Jabô, o noivo de Leocádia, levou um tiro. Como avisá-la, moça de vida tristonha, que só agora se abriu a alguma ilusão? Preferiram, antes de tudo, saber do estado de saúde do operário. Na conversa à beira do ferido, na iminência da chegada do socorro, decidiram que Xaveco e Brito, este primo da vítima, seguiriam para o hospital. Com as novidades, alguém iria lá na casa de Leocádia dar o recado. Mas quem? Os olhos se voltaram todos para Reizinho, não por alguma qualidade especial, mas era amigo do irmão da moça, e sua chegada à casa dela não despertaria maiores suspeitas.
Entretanto Padreco, o mulato parrudo da boca de fumo, vira com os próprios olhos o tal Reizinho disparar a arma contra Jabô e, malandramente, se meter na multidão para ninguém suspeitar dele. E Padreco não gostava do sujeito. Situação mais apropriada para a esperteza morder a isca da oportunidade. Padreco entrou na conversa e achou por bem acompanhá-lo quando fosse o momento, até porque quem pregou aquele fogo gratuito deveria estar solto por aí, e Reizinho era homem de paz, talvez carecesse de ajuda para uma eventualidade. Sensata a intervenção de Padreco, concluíram todos, inclusive Reizinho.
A notícia do hospital era das piores. Na realidade, a pior: Jabô, ó... Reizinho deu pra trás: isso não contava para a Leocádia de maneira alguma. Padreco pressentia outro esquema na declinada do astuto: defunto em morro é obra de assassino; logo, logo, a lei apareceria na cola do malfeitor. Reizinho armava um “vou ao vento”. Nova intervenção do Padreco na assembléia interminável: dava ele a notícia, mas Reizinho ia de fiel, de guia, para ensinar onde morava a noiva viúva. O sensato em pessoa, esse mulato do bagulho. Não houve jeito, Reizinho foi no correio do anúncio fúnebre.
Quanto mais se afastavam da assembléia, mais ficava a certeza de que os dois homens não cumpririam o prometido. Padreco esperava chegar a um canto vazio para despachar a alma do outro para o fim do mundo. Reizinho, que nunca foi bobo, mas fingia-se de, tinha consciência plena de que o tal Padreco vira tudo, portanto bastava uma brecha para cair no pé.
Porém os becos, apinhados de gente, não ofereceram chance nem para outro crime nem para uma arriscada fuga. E, assim, assim, os homens chegaram à casa de Leocádia transferindo, lá dentro deles, todos os planos para a volta. Reizinho bateu à porta. Não se ouviu um “vai entrando, moço” nem um “quem é”. Veio em resposta, isso sim, uma seqüência de tiros sem pejo. A polícia matava dois coelhos com uma única disparada de balas, coisa cara para os cofres públicos.
Nesse dia, Jabô não amou Leocádia. Reizinho, livrando-se do noivo, não se apossou da viúva. Padreco não fez justiça com as próprias mãos. E Leocádia ficou a ver navios. A ver navios, não, porque dali do morro não se via o mar.
18.4.09
Por que gosto de melodias simples?
Porque Deus não existe.
Porque sou limitado.
Porque, certa vez, não tinha nem seis anos, disse à Denise que construíra sozinho, tijolo a tijolo, uma casa de vime.
Porque passei a mão na Jane.
Ou por nada disso.
(Por ignorância, talvez.)
Quem sabe por preferir pão de queijo a ragu.
Por ter beijado de olhos abertos na minha primeira vez.
Por não conhecer nenhum Germinásio.
Gosto de tudo que é simples, pois a simplicidade nada mais é do que a sabedoria despida de adereços.
Por não ser musical.
Porque posso cantá-las no banheiro.
Ou cantá-las à luz da lua, em serenata.
Pode-se perfeitamente pensar sobre elas em vez de cantá-las.
Para ouvi-las, não se requer muita atenção.
Melodias simples são a prova cabal da existência de Deus.
Melodias simples não são assobiadas por pássaros.
Porque já tive um troço.
Porque já bebi demais e tive amores lunáticos.
Por meus amigos terem nomes como Sílvio, Marcus José, Pedro, Átila, Paulo, Nelson, Horácio e Jânio. E por outros amigos terem trocado seus nomes por apelidos.
Se eu vivesse
Se alguém me esperasse em Oklahoma.
Se fosse outro, aumentariam as minhas chances de ter gosto refinado.
Porque Fernando Sabino humilha.
Porque Manuel Bandeira nem soube de minha existência.
Porque da janela do meu quarto eu via a mãe da Nádia tomar banho.
O resto de inocência do mundo está guardado numa melodia simples.
Toda (boa) relação sexual começa com uma carícia, que não passa de uma melodia simples, a mais simples entre as simples.
Porque Deus escreve certo por linhas tortas, mas, quando fala, não fala, canta melodias fáceis.
Por todos esses motivos. Por alguns deles: os que não se contradizem. Apenas pelos verdadeiros. Por nenhum deles.
Um instante, leitor:

Lanço meu novo livro — “A câmera e a pena”, Editora Cais Pharoux — no próximo dia 7 de maio de
Já pensou se você aparece lá e a gente troca um dedo de prosa? Amarei se isso acontecer. Talvez eu até cante uma melodia simples, pois elas caem tão bem na voz de quem tem muito a agradecer.
5.4.09
A câmera e a pena
Em maio será lançado meu novo livro, A câmera e a pena, Editora Cais Pharoux (http://www.caispharoux.com.br/).
Neste livro usei e abusei daquilo que condenamos nos políticos, ou seja, ele é uma reunião de amigos. Os editores (Horácio e Glória) são meus amigos. O capista (Ricardo Tamm) é meu amigo. As revisoras (Glória e Teresa Cristina) são minhas amigas; Teresa, vejam que abuso, é minha irmã. A arte-finalista (Fernanda Garcia) é prima de minha mulher (Bia Werneck), que, por sua vez, nos ajudou na revisão. Para completar o time, e coroar esse verdadeiro nepotismo a serviço das letras, minha comadre Beth Brandão fez minha foto.
Além disso, planejei um livro com duas novelas (Um pouco mais que um diretor e Em torno de uma xícara de café). Convidei dois amigos escritores (Marco Túlio Costa e Alexandre Marino) para apresentar cada uma delas. Por fim, ainda "convoquei" meu outro amigo, o premiadíssimo Antonio Barreto para escrever a orelha. Aliás, que orelha! Na realidade, acho eu, uma inovação, pois a orelha é um e-mail. Vocês verão (espero que vejam).
Falo um pouco da primeira novela (Um pouco mais que um diretor). Comecei a escrevê-la em 1990 e só fui acabá-la em 2005. Não que tenha levado todo esse tempo na sua escrita, simplesmente havia abandonado-a quando ainda não passava de um conto de um escritor iniciante. Em 2005, quando fui levar meu livro "Estão todos aqui" (Editora Bom-Texto) ao editor, ele estranhou que fosse uma mistura de alguns contos com uma novela. Na dúvida de se aceitaria meu projeto, corri pra casa e pensei em uma novela para fazer par àquela outra. Lembrei do conto, voltei a ele, cheguei à novela. O livro saiu justamente como eu sugerira.
Esta novela se passa durante a filmagem de um primeiro longa metragem de um diretor. Conto os dias de filmagem, dias que operam mudanças em muita gente: nos atores, nos técnicos e, principalmente, no diretor. Ele tem uma espécie de surto. Com isso a filmagem não é concluída e o filme, óbvio, não se materializa.
O que estava pronto e acabado era o argumento do filme. Aliás, um argumento que dá a entender que o filme bem poderia ser uma espécie de Almodóvar, ou, quem sabe, um dramalhão mexicano. O que seria dependia do talento de todos, e ninguém soube e ninguém saberá a serviço do quê estava esse talento.
O argumento aparece na novela, e eu, em primeira mão, apresento-o a vocês, meus leitores. Que aguce a curiosidade de todos. Se tudo der certo, primeiro no Rio de Janeiro, dia 7 de maio, na Livraria Arteplex (que está para mudar de nome), à partir das 19 horas, estarei distribuindo autógrafos aos que aparecerem para tomar um vinho comigo.
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Argumento
Grande penedo
Este carrega;
E apenas chega ao cume,
O faz rolar.
A pedra sempre
Ao vale desce,
Sem que ele cesse
De a ir buscar.
(Lira XIII, Marília de Dirceu,Tomás Antônio Gonzaga)
Noutra hora irei colocar trecho da outra novela.