Não acredito em numerologia, nessas coisas, mas ontem, 10 do 01, foi um dia interessante, vai que tem a ver com a data espelhada, não é? Pois bem, o dia começou da seguinte forma: ouvi a conversa entre aqueles que chamei de revoltados da aurora (dois senhores, na primeira hora da manhã, enquanto levavam seus cachorros para as necessidades matinais, ameaçavam destruir a assembleia e o congresso na porrada) e li, num cartaz-propaganda de um leitor de búzios, a promessa de, depois de uma consulta, o cliente “ter êxito em seus problemas”.
Trabalhei, como sempre trabalho. No fim do dia, resolvi ir ao cinema. Seguindo a dica de meu amigo e xará, o poeta Alexandre Marino, fui ver “The Square — a arte da discórdia” (Ruben Östlund). Sobre o filme, digo que é importante, senão fundamental, vê-lo nesse momento. O crítico José Geraldo Couto, na primeira vez que falou do filme (no site do IMS), fez elogios rasgados, na segunda, recuou um pouco, viu certo didatismo no filme, uma tentativa de açambarcar todas as questões pungentes dos dias de hoje. É até possível que ele esteja certo, mas tudo no filme é colocado de forma intensa, verdadeira, então, a meu ver, esse didatismo se perde ou perde a importância.
Comprei o ingresso e dei um pulo na livraria que fica a um quarteirão dali. No caminho, esbarrei em dois escritores numa ilha que separa as calçadas da rua. Brinquei com eles dizendo: “poxa, já somos poucos e vocês ainda ficam aí, expostos ao perigo.” Rimos, e eu tratei de seguir para a livraria, sabia muito bem o que queria lá. Há algum tempo, numa conversa com a Suzana Vargas, ela me disse que havia conhecido e ganhado um livro do Marcelo Maluf. Me aconselhou fortemente a lê-lo. Depois, no Face, o Eugen Weiss, respondendo a uma enquete sobre quais seriam os bons escritores da atualidade, tascou um Marcelo Maluf. Então eu ia à livraria para comprar um Maluf, este, não o outro, aquele. E fui. Lá, o poeta, cantor e livreiro, Leonardo Marona, botou a livraria de cabeça para baixo (exagero) para achar o “A imensidão íntima dos carneiros” (Editora Reformatório). Eu e Leonardo, antes de qualquer coisa, ficamos embasbacados com o título, e, agora, avançado na leitura, posso dizer que o livro é bom, aliás, bem bom.
Voltei ao cinema, encontrei dois amigos, sentei num cantinho, comecei a ler a minha recente aquisição. Entrei pra sala, fui desligar o celular e, antes, resolvi dar uma espiada no Face. Para minha surpresa, o querido Marco Túlio Costa acabara de publicar um texto sobre o meu “O bichano experimental” (Patuá). Coisa linda. Respondi a ele o seguinte: “Eu aqui esperando o filme começar, numa sala lotada, onde devo ser discreto, e leio isso. Não posso gritar, nem chorar. O que me resta senão sentir-me um bichano feliz, ronronar baixinho e firmar um compromisso de, saindo daqui, tomar um chope e propor um brinde aos deuses? Valeu, grande Marco Túlio Costa." Ao sair da sala, encontro meus amigos Shirley e Átila. Cada um deles carrega uma garrafinha de cerveja. O Átila me dá a dele, já vai entrar no cinema (para assistir ao “The square”) e é com essa garrafa que cumpro o prometido e brindo aos deuses as palavras sobre o livrinho. Depois, fui pra casa comer macarrão com salsicha e, sentado no computador, ficar ouvindo o Catho, esse jovem cantor de quem nunca ouvira falar.
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