Patinho feio da literatura, a crônica é de leitura leve,
ainda que nem sempre o assunto de que ela trata seja ameno. Surgida nos
jornais, num cantinho rodeado de notícias sangrentas ou muito importantes,
essas que falam dos rumos do país e até do mundo, a crônica, para sobreviver, fez-se
sedutora. Conseguir um leitor não é tarefa fácil, daí a opção pela sutileza
(contra as certezas brutas dos vizinhos), pela linguagem polida (contra o texto
prolixo) e até pelo assobio (em clara tentativa de falar com os pássaros, pelo
menos com eles).
Ao contrário da poesia, do romance, do conto ou do ensaio, a
crônica busca o leitor em vez de ser procurada por ele. Explica-se assim o seu
jeito atirado, mas nem de longe vulgar. A crônica é, por estratégia de
sobrevivência, sensual, ainda que não fique claro se sua sensualidade é feminina
ou masculina ou, o que parece mais apropriado, masculina e feminina. Digo que é
sensual, mas é preciso dizer que é uma sensualidade que não está diretamente ligada
ao ato sexual. Em vez da carícia preliminar, a crônica é aquele telefonema no
meio da tarde para dizer que vai se atrasar, são as roupas íntimas que, lavadas
durante o banho, ficam esquecidas no box, é a mão que toma a outra durante a
sessão de cinema.
Talvez por ser tão comezinha, a crônica cuide dos assuntos
comezinhos. Ou dê tratamento comezinho a qualquer assunto. Uma superpotência
invade um país, a crônica não se mete com as questões geopolíticas, com os
interesses econômicos envolvidos. Sua preocupação é com as mães que esperam os
filhos enquanto as bombas caem pelo caminho, com o filho que espera o pai, com
o pai que espera a mulher. A crônica é guardiã da delicadeza, talvez por isso
seja o suprassumo da política.
Apesar de ser aliada dos que estão à margem do poder, a
crônica não fala de sua indignação apenas em tom severo e tristonho. É
encrenqueira, escrachada, hilária; claro, quando quer, porque não aceita
ordens, enquadramentos, leis, horários, limites. Nisso, não se difere da
literatura ou das artes de modo geral. Quando a crônica se curva e aceita
limites que lhe são impostos, ela não vai além de uma lenga-lenga saída das mãos
de um canalha.
Um comentário:
muito boa a sua crônica!
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