Gostaria de começar esta crônica-espelho com a palavra
convulsão, pois me vi num estado convulsivo nos dias próximos ao lançamento no
Rio de Janeiro de “Nenhuma poesia: uma antologia” (Editora Patuá), um conjunto
de poemas escritos ao longo de quarenta anos. Como quarenta são os anos vividos
no Rio, é um livro comemorativo. Sim, uma comemoração minha comigo mesmo. Meu
nome é Narciso Alexandre Pessôa Brandão. Ou foi por uns dias. Agora já voltei à
realidade estúpida reproduzida pelos espelhos, vitrines, capôs de carros e latas
abandonadas nas ruas.
Nos meus dias de beleza revelada pela água, vivi as bobagens
mais bobas que a ansiedade nos faz viver. Me vi um adolescente que não sabe
muito bem como lidar com os compromissos que, da noite para o dia, mudam de
tom. Símbolo dessa mudança era deixar de usar calças curtas. Pois então, nos
dias em torno do dia do lançamento, minhas calças compridas estavam sendo
confeccionadas pelo alfaiate da delicadeza, da amizade. Eu não sabia e pensava
que elas iriam me apertar e me reter no chão. Insônia, dúvidas em cascatas,
essas são as companhias da ansiedade adolescente.
Mas também há um nível da ansiedade menos estúpido, aquele
no qual um cara com sete livros soltos pelo mundo se vê metido. Será que não fui
longe demais, por que não ficar escrevendo meus contos e crônicas, deixando isso
de poesia pra lá? Mas por que não, se há material para um livro? Essa briguinha
tem, de um lado, a vontade de se dar ao mundo como mais uma voz que lhe quer
falar e, de outro, a vaidade, a proteção um tanto quanto covarde do próprio
nome.
Publicar o livro foi a vitória de quem quer dialogar. Como
digo sempre, escrevo com esse fim. Claro que, ao escrever, busco a forma que me
agrade, ou seja, não faço pouco caso das questões estéticas, mas o meu
interesse é falar com o hoje.
Amigos que escrevem entendem esse estado convulsivo, um
pouco letárgico e muito viçoso. Para quem não escreve, pode soar
incompreensível, mas, por favor, faça um esforço, não saia por aí dizendo que o
Xandão é cheio de nove horas. Não sou, só tenho um umbigo que, numa hora
dessas, fica maior que o mundo.
Chegado o dia do lançamento, raspei o prato do afeto. No
quintal da casa que minha filha e outras psicólogas alugam (mulheres, obrigado
pelo espaço tão acolhedor), recebi pessoas de vários mundos: da faculdade, do
trabalho, da família, do círculo de amigos, da literatura. E foi um encontro,
além de lindo, potente. Todos nós sorríamos. Poderia ser simplesmente uma
festinha, mas não, ali firmávamos o compromisso calado de manter o sorriso no
rosto para enfrentar a monstruosidade que governa nosso país, eco desafinado de
uma monstruosidade que se impõe ao mundo.
Na
viagem ao umbigo, encontrei forças para sair dele e exigir que a gente lute para
retornarmos à convivência social respeitosa — ainda que contraditória, com
forças conflituosas puxando a corda cada uma para o seu lado —, que, com a intermediação
do Estado, deve buscar o bem comum.
7 comentários:
Boa, Xandão!
Pelo visto, sucesso retumbante o lançamento dos seus poemas no Rio de Janeiro. Parabéns!
Leonel Prata
Que lindo texto. Que bom que ficou feliz. Parabéns pelos livros todos.
Gente, obrigado. Foi mesmo um dia incrível.
Muito bom!
Valeu, Aldemar, obrigado pela visita.
Oi, alexandre, gostei muito do teu livro. forte abraço.
Haron, meu caro, que boa notícia. Abração.
Postar um comentário