17.7.20
Adolfinho em faxina
6.7.20
Para nada
Hoje estou
apenas para cantorinhar. Ou para catar piolho em cabeça fresca de criança, mas
não há criança por aqui, muito menos com piolho.
Não estou é para
nada, estou apenas para o passar do sol, como dizia meu tio Ellin. Mas, devo confessar,
hoje não há sol. E, vira e mexe, venta. Não é o tal ciclone-bomba que varreu
Santa Catarina e Paraná, mas, preveem, não será uma brisa nordestina, uma daquelas
deliciosas que serviam de argumento para Bandeira, disposto a abandonar amigos,
livros, riqueza e vergonha, convencer sua amada, Anarina, a — deixando para trás
filha, avó, marido e amante — mudar-se com ele para Pernambuco, Paraíba, um desses
paraísos lá de cima do mapa onde se pode viver de brisa. O ventinho, nem
ciclone nem brisa, vai atiçar o mar, levá-lo à ressaca.
Estou para
rever filmes, mas, admito, a experiência na sala de casa não me agrada. Gosto
do processo de ir ao cinema, principalmente o de rua. Sair do apartamento um
pouco antes, comprar ingresso, correr à livraria, folhear as novidades, beber
um café, quem sabe comer um pedacinho de bolo e comprar uma garrafa de água na
farmácia ou na banca de jornal, onde, aprendi, é mais barato. Ver ou rever
filmes agora é na sala e ponto. Se der sorte, os demais confinados fazem
companhia; se não, enquanto na tela a moça e o moço trocam olhares, ou um
malvado planeja “o” crime, ou uma mulher anda sozinha por um jardim de uma
cidade a que nunca fui ou irei, os colegas de infortúnio passarão na frente da
tela ou conversarão qualquer assunto sem se importarem com o atento
telespectador de filmes que já viu.
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Cenário de Dogville |
Ah, hoje não estou para nada, estou apenas para regar minhas dúvidas e, aqui e ali, cantarolar músicas que não sei a letra nem de quem são.