Na Tailândia – especificamente na província de Lop Buri –,
macacos, lá protegidos por lei, têm promovido verdadeiras guerras entre gangues.
Não são raros ataques a humanos, mas a coisa fica feia mesmo durante o
enfrentamento de um grupo contra o outro. O conflito não ocorre na mata, habitat dos animais, mas no centro urbano. Ou seja, você está lá no seu carro,
ou pior, parado na calçada, esperando a chance de atravessar a rua, quando de
repente uma horda de primatas cruza à sua frente para brigar com a outra que está
bem às suas costas. Não conheço a realidade da Tailândia, portanto não posso
afirmar se esse é o maior problema deles. Me arrisco a dizer que não, um país nada
mais é do que um saco de problemas.
Apesar do inusitado dessa guerra nos moldes antigos, no tapa
e na coragem, sem armas – alguns bichos confeccionam ferramentas para
auxiliá-los em suas ações básicas, mas não sei de nenhum que produza armas –,
os tailandeses deveriam agradecer pelo fato de suas ruas não serem tomadas pela
polícia carioca, especializada em soltar tiros a esmo contra bandidos –
verdadeiros ou inventados – nas ruas da cidade, para dizer a verdade, nas ruas
em torno das favelas, principalmente em seus becos. Nem pela “nova” polícia
paulista. Enquanto os macacos disputavam território, o governador de São Paulo,
importado do Rio de Janeiro e com as palavras a seguir, encaminhava o pessoal
dos direitos humanos à ONU ou à Liga da Justiça, ao raio que o parta, porque
ele não estava nem aí com as críticas à truculência de seus comandados nas
periferias. Ainda agora essa polícia matou Edneia, uma jovem de pouco mais de
trinta anos, cabeleireira, com seis filhos para criar. A imprensa fala em mais
um caso de bala perdida. É insuficiente a explicação, quando não cínica.
Os finlandeses são felizes, os mais felizes do mundo, constata
uma pesquisa tradicional. Eu já estive lá e conheço seus dias cinzentos e
frios, mesmo fora do inverno. Duvido um pouco dessa felicidade, mas não muito. Como
assim? Acompanhe a historinha: num habitual dia sombrio, eu cruzava uma praça
de Helsinque e, de repente, o sol se abriu. Uma mulher que ia logo adiante de
mim se sentou num banco, tirou a blusa, o sutiã e ficou tomando sua carga de
vitamina D. Isso, sim, me cheira a felicidade, ao miúdo da felicidade, mas
quantas vezes no ano poderão se dar a esse luxo?
Igualmente não sei se o único problema da Finlândia é o
frio. Sei um pouco, na verdade. O alcoolismo é uma questão sensível por lá. Quando
estive no país, tinha em mente um dos episódios de “Uma noite sobre a terra” (Night
on Earth), de Jim Jarmusch. O filme reúne cinco histórias, cada uma delas
se passa em uma cidade, Nova York, Roma, Londres, Los Angeles e Helsinque, e os
personagens estão sempre em um táxi. Pela lente do diretor americano, as ruas
de Helsinque estão cheias de bêbados, o que constatei em minha visita. Se é
certo que as cidades finlandesas jamais serão atacadas por macacos – podem ser
por ursos e, às vezes, são – nem pela polícia vingativa e falsamente punitiva
brasileira, eles têm, bem ao lado, a Rússia e sua discordância ameaçadora sobre
a intenção da Finlândia de entrar para a Organização do Tratado do Atlântico
Norte (Otan), o que veio a acontecer no ano passado. Uma bala perdida do
poderio russo pode extinguir a felicidade e os bêbados da felicidade.
Minha expedição sem sair de casa à Tailândia ou à Finlândia se
faz sem bússolas, até sem a orientação das estrelas. Penso na briga de macacos
ou na felicidade “medida” pela estatística um pouco para não pensar, por
exemplo, nas guerras entre Rússia e Ucrânia ou entre Israel e o Hamas, esta um
banho de sangue cruel, comandado por um extremista de direita sem nenhuma visão
além da vingança. Ah, senhor da guerra, leia “Judas”, de seu compatriota Amós
Oz. Ou simplesmente leia (desconfio da absoluta falta de leitura dessa gente).
Dizem que a grama do vizinho é mais verde, mas a desgraça
alheia maltrata mais do que a nossa. Penso assim? Ora sim, ora não. Vagueio,
leitora, vagueio, leitor, e, com as mãos no bolso e andando de lado, chuto
pedrinhas.
Um comentário:
Viajei no texto! E vou viajar na indicação da leitura que o Netanyahu não fará!
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