Para Rick Bell, Sabão e Tacilinho
Blues
Quando sair de cena, minha senhora, não esqueça no varal suas roupas íntimas nem no lençol seu cheiro de maçã.
Esqueça de vez a primeira e a última palavras que trocamos. As contas penduradas e as noites maldormidas em madrugadas de filmes ruins faça de conta que nunca existiram.
Deixe valer seu charme na próxima esquina. Ou explore a força de suas pernas e ponha-se a correr ladeira abaixo, sem olhar pra trás, sem olhar pro lado, sem se dar pelos perigos.
Não me escreva correios eletrônicos ou correios elegantes em noites juninas. Não telefone ao cair da tarde ou no auge de pileques de bebidas baratas.
Gaste seu dinheiro, mulher, moça e menina, em bacanais assexuados e jogos de azar. Não invista.
Todo sol é princípio de escuridão.
Jazz
O silêncio tem amizades suspeitas. Nos anos de chumbo, amasiou-se com o medo. Juntos improvisaram escuridões. Resistentes, poetas cantaram assim mesmo. Bill Evans, alheio a tudo isso, passou ao largo em solos lunares.
Anônimo, um menino do interior das nuanças tropeçou num desses solos e soprou a Chet Baker um sustenido de amor. Foi a gota fértil que faltava para tudo tomar outro rumo, no qual o silêncio não se furtou de fazer das suas, aconchegando-se à alegria num bebop febril.
Valsa
Não somos de soma.
Não somos quadrados.
Somos quem abraça o outro no calor das notas suaves.
Vamos pra lá e pra cá levados pelo vento.
Sabemos o alfabeto do corpo em movimento e sonhamos requebrar em praça pública.
Tango (trecho do poema Tangos de cera)
O homem do lado cheira a fracasso/ O homem no bar bebe o gargalo/ O dono do bar tem tanta grana/ E nenhum amor:/ Nunca comeu arroz doce/ Tapioca ou banana com canela.
O mundo é do ontem/ Do desencontro/ Do lodo.
Sinistros dias que conceberam a ilusão/ Não lustro sapatos para refletirem calcinhas/ Não sujo sapatos para insinuarem histórias.
Os cegos de Sábato têm a visão do bandoneon/ Os coelhos de Cortázar reproduzem-se com o esperma do bandoneon.
O conjunto faz o intervalo/ Uma lâmina traça outro pulso.
Outros, inclusive e principalmente o rock
O salão oval gosta de receber os que, sem ritmo, dançam conforme a música que não foi nem será tocada.
8 comentários:
Alexandre...
O mundo...
é repleto de surpresas mesmo...
cada coincidência...
Estou escrevendo sobre
Nat King Cole...
lá no meu blog...
dá uma flutuada por lá....
beijos
Leca
mentequeflutua.blogspot.com
gostei muito do encontro entre a palavra e o som...graças e alegria sincera
Ediney,
Se gostou, apareça quando quiser, aqui a gente sempre tem uma música subentendida e umas palavras em striptease...
Abraços.... Ah, passe também no http://estilingues.wordpress.com para conhecer um projeto que estou no meio.
Olá Alexandre, Passei aqui para fazer uma visita. Já faz algum tempo que não estou na travessa. Agora trabalho em uma editora. Dê um alô.
Flávio, vamos nos dar uns alôs por aí sim. Em que editora você está?
Abraços,
Opa Alexandre, fiz mais uma visita aqui no blog. gostei muito do projeto estilingues. Bacana mesmo a idéia. Não sei se vocês conhecem o projeto do livro livre, da sec. de cultura de nova iguaçu. Mas vale a pena, tem a ver com a ideia de vocês. Trabalho na Vieira&Lent Casa Editorial.
abraços!
Alexandre, vim navegar no seu blog e amei esses textos/poemas sobre música. Realmente inspirados. Você sabe que você tem uma rara capacidade de usar as palavras para falar das diversas formas musicais? E é tudo atual, nada careta, em sintonia. Eu já tinha adorado seu post sobre a Amy. Fico me perguntando porque você não escreve mais textos nessa "clave"... :)
Ana, Ana, acho que essa coisa com a música está ligada ao fato de meu sonho era ser cantor... mas não deu!
Volto ao tema, é certo.
Obrigado pela visita, venha sempre, blog de mineiro sempre tem um café com pão de queijo.
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