Há
muito tempo não passava tantos dias em Passos, certamente desde a morte de
minha mãe, em 2007. O motivo que me levou à cidade desta vez era nobre: a I
FLIPassos (Feira Literária de Passos), evento que fez parte das comemorações do
aniversário do município.
Eu e
outros tantos escritores, passenses e de diversos cantos de Minas, tivemos uma
agenda cheia. Visitamos escolas, fizemos leituras em praça pública e lançamos
livros. Participamos de reuniões de escritores e batemos papo com os leitores.
Nada diferente das feiras literárias. Porém havia um diferencial que atingiu
com certeza a mim e aos demais conterrâneos: a feira foi em nossa cidade.
Assim,
os relatos que ouvíamos, seja nas reuniões formais, com a presença da secretária
de Educação, Cultura, Esporte e Lazer ou da diretora de Cultura, seja nas
informais, tanto nos emocionavam como nos deixavam ainda mais certos da
importância de um evento como esse para uma cidade. Ao participar de encontros
em escolas, nos damos conta, por um lado, de como é importante para o
estudante-leitor ver o escritor, conversar com ele. Talvez essa seja uma das
maneiras mais atrativas de estimular a leitura, afinal de contas o escritor é
uma pessoa que sabe fazer a ponte entre sua literatura e a atualidade, esta uma
vivência comum a todos. Essa ponte, creio, é um facilitador, além de estímulo.
Por outro lado, ao participar desses encontros com as escolas, há um caminho
inverso, qual seja: os escritores descobrem como sua obra alcança o leitor, enfim,
que leitura ela ganha. Essa via de mão dupla enriquece escritores e leitores.
Não
posso deixar de mencionar o relato emocionado de Nelson Cruz, Neusa Sorrenti,
Cristina Agostinho e Maurílio Andréas G. Silveira ao voltarem de visitas que
fizeram às escolas, em particular às escolas rurais. Nelson Cruz, por exemplo,
nos disse que, numa escola rural, encontrou, numa modesta biblioteca, três de
seus livros. Uma vitória pessoal, mas também uma certeza de que a política de
compras do governo está bem direcionada. Nelson não só chamou a atenção para
esse deleite pessoal, como também registrou a qualidade do trabalho das
crianças, feito com desenvoltura e criatividade. Disso tiramos uma conclusão
óbvia: há professores dedicados em Passos, e eles estão fazendo um excelente
trabalho. Aliás, sabemos, o ensino é sacerdócio. Coisas assim nos dão
esperança de que a educação esteja sendo levada a sério.
Por
tudo isso, a FLIPassos deverá ser um evento perene, incluído no calendário da
cidade, independentemente de quem a esteja administrando. Isso não é fácil,
pois a política gosta do personalismo. Cabe então a nós, que não somos
políticos, reivindicar que esse evento — e outros de igual dimensão, ligados ao
teatro, à música, ao cinema etc. — seja do povo e para o povo. E, mais do que
isso, cabe a nós tentar atrair nossos agricultores, pecuaristas, donos de
fábricas e comerciantes a participar da feira. Participar com grana, claro, mas
também de outra forma, por exemplo, divulgando e abrindo a porta de seus
estabelecimentos para eventos.
Para
terminar, agradeço a todos que me prestigiaram. Em particular, agradeço ao
pessoal do Polivalente, a escola em que estudei e que me homenageou no desfile
do dia da cidade. De todas as emoções que tive nessa passagem em Passos, as
mais fortes estiveram ligadas à escola. O encontro com os alunos para
bate-papo. O desfile em si.
Além disso, o encontro com Cecília Barros, a vovó-diretora de
meu tempo, e com alguns colegas contemporâneos (Nilo, Auro e Teresinha) me
deixou... me deixou... me deixou sem palavras.
Desfile pelo dia da cidade. As escolas homenagearam os escritores da FLIPassos. Desfilei com o meu colégio, o Polivalente (fui da primeira turma, em 1972). |
Ah, no fim do evento, outro assassinato em Passos. A literatura não
salva nada, mas, onde se lê mais, a vida é vista em sua real importância.
3 comentários:
Alexandre,
a Literatura não salva, como vimos nessa notícia trágica que encerra o seu lindo texto. Não salva, mas é um bálsamo para as dores advindas da perecível condição humana. Vida longa para os escritores, editores e aos que não querem só comida. Querem comida e a chance de reinventar a vida, nas páginas de um livro.
Parabéns pela merecida homenagem! Você está glorioso, no meio das crianças do colégio.
Beijos, Maria
(COMENTÁRIO ENVIADO PELA MARIA BALÉ, QUE NÃO CONSEGUE COLOCÁ-LO AQUI DIRETAMENTE).
Primo, como sempre... eu viajo nas suas viagens. Me senti em Passos, desfilando com você e com o futuro... personificado nas crianças presentes, ávidos e prontos para encherem o seu tanque com o combustível do conhecimento, esse sim renovável...rs... e necessário ao seu crescimento. Parabéns para todos. Abraços. Fernando Brandão
Maria e Fernando, primão, comungamos todos essa esperança de dias melhores, semeado, espero, no coração das crianças que têm um livro na mão.
Muitas feiras literárias Brasil afora.
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