Escrever como se lesse.
Chorar para lavar os olhos, lavar os olhos para não cair de vez.
Não aceitar a maçã, voltar ao Paraíso, comer a maçã e ser expulso de lá.
Vender a mãe, entregar a sósia.
Apartar o sujeito de um verbo encrenqueiro com uma corajosa vírgula.
Piar para os passarinhos, miar para os passarinhos, latir para os passarinhos, viver entre eles.
Contar quantas vezes falei com carinho a palavra pai.
Financiar um miliciano que me proteja de mim.
Jogar amanhã na loteria de hoje. Não só acertar como ganhar a grana.
Dormir um pouco ressacado e acordar absolutamente bêbado.
Cortar os cabelos de Rapunzel enquanto, agarrado a eles, subo ao seu quarto.
Pedir exílio ao meu lado solar.
Conversar com estranhos coisas estranhas.
Cantar no chuveiro, ser aplaudido no Municipal.
Andar dez quilômetros, emagrecer cem.
Gerenciar o silêncio no grito.
Reatar a amizade do cravo com a rosa.
Rir daquele dia triste que começou com um riso.
Dirimir a dúvida dos sapos.
Dirimir a dúvida dos sapos.
Voltar à civilidade.
Ler como se escrevesse.
2 comentários:
Como já comentei em RUBEM, Alexandre, dá gosto de constatar a presença da linhagem sensível dos cronistas mineiros em tuas palavras, honrando Paulo Mendes Campos. Emocionante!
Abraços, Rubem
clap clap clap
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