Meu primo, naquela altura, velho e maltratado pelos excessos cometidos vida afora, andava macambúzio, mais do que preocupando os familiares. Seu filho quis saber o que se passava, o que poderiam fazer por ele, o que afinal o pai queria. “Quero nhanhá”, respondeu. O gesto que acompanhou a expressão não deixou dúvida, o pai, mais pra lá do que prá cá, queria o fogo íntimo de uma fêmea. O filho ficou aturdido, mas consultou a irmã, médica, e essa aconselhou-o a dar o comprimidinho azul ao velho, obviamente arranjando-lhe a companhia.
Foi tomar o remédio para meu primo quase partir dessa para a melhor. Ficou todo torto, a boca espumava, teve como que um ataque epilético. O filho tornou-se ainda mais zeloso tão logo o pai se recuperou. Recuperação em termos, pois a tristeza deitou-se a seu lado e não saiu mais dali. O filho, sempre filho, portanto devedor de respeito à autoridade maior do pai, ainda que este não passasse de um corpo a um fio de sumir, fez de novo as mesmas perguntas anteriores. O velho não titubeou: “quero nhanhá”. Não lhe foi dada a pílula pela segunda vez, e, pelos motivos que o levaram ao estado em que vinha metido havia muito, meu primo não tardou a morrer. Morreu sem a derradeira.
Em viagem de negócio, um amigo encontrou um conhecido, devasso sem igual. Trocaram conversa e ficaram de ver-se no outro dia. Nesse intervalo, meu amigo se meteu numa aventura sexual inesperada. Não se saiu bem. No outro dia, ao contar sua desventura ao “devasso”, este riu e estendeu-lhe uma azulzinha. O tempo de vexame havia sido deixado para trás.
Meu amigo experimentou. Um sucesso. Em suas próprias palavras: “um homem de mais de quarenta anos com disposição de garoto de dezoito”. Enfim, o grande sonho masculino tornara-se realidade. Porém, como meu amigo ama sua esposa, pensou então em dar a ela esse novo homem de presente. Agiu às escondidas. Tomou sua pílula. Ao deitar-se, a esposa estava bonita que era uma coisa, só que não quis nada. Com ou sem cabeça de homem de quarenta e tantos anos, ele teve de agir como os garotos de dezoito, ou de treze até. Vexame. Não é que o danado não se emendou? Passado um tempo, nova pilula, e outro não.
O ator Jack Nicholson, certa vez, disse a um jornal que, se fosse casado, tomaria a pílula três vezes por semana, pois não deixaria nunca de cumprir seu papel sexual em casa. Já o pessoal do Casseta, rindo-se, não do Viagra, mas do Levita, que, segundo consta, garante o usuário por setenta e duas horas, sugeriu que, nas setenta em que o sujeito não estivesse mais “nhanhando”, tratasse de ajudar a tapar as frinchas existentes nas paredes das usinas hidrelétricas, por onde a água escapa.
Argumento para ficcionista: O sujeito anda equilibrando-se em fio de náilon e sem sombrinha. Para soar verossímel, imaginemos um sujeito em crise de meia-idade. Algo está pedindo a ele para ir além e pisar do outro lado da cerca, soltando a mão da razão. Sua primeira atitude melhor serveria a momentos de desfecho: compra uma caixa da pílula azul. Estará pronto para quando surgir a oportunidade. Com o troço na carteira, sai de casa hoje. Sai amanhã. Sai depois de amanhã. E sai, sai, enlouquecidamente ele sai. Nunca calha de acontecer o tal encontro fortuito. O remédio perde a validade, e com isso o homem perde sabe-se lá o quê de si.
2 comentários:
Xandao
Otima a cronica como sempre. Beijos
Gonzalo
Valeu, seu Gonzy.
Aquele abraço.
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