Duílio Gomes (Estado de Minas, Segunda Seção, 12/11/1995)
A fonte do conto mineiro continua jorrando. A tradição desse gênero, nas Gerais, sempre fala mais alto, apesar dos modismos editoriais que insistem em formar mapas cronológicos para escolas, tendências, o escambau.
A bola da vez do conto mineiro se chama Alexandre Brandão. Mineiro de Passos, mora hoje no Rio. Para não fugir à regra literária, começa no short-story. E começa bem, como atesta o competente João Gilberto Noll na apresentação deste “Contos de Homem” (Ed. Aldebarã). Noll, que não costuma emprestar o seu aval com facilidade aos que metem o pé na estrada pela primeira vez, destaca as qualidades do contista mineiro e vê nele um talento emergente — “Alexandre Brandão não vem apressado para os líricos abandonos da raça...”
Brandão não emigrou de nenhum grupo ou geração. Não traz compromissos firmados com nomes ou tendências. Free-lancer, vem descobrindo sozinho os seus caminhos. Sua geração, a de 80, é a pós-tudo. E isso facilita a sua carpintaria. Seus relatos curtos possuem estilo próprio, não lembram fulano ou sicrano, não deixam pistas para o leitor ou crítico detectar seus filões iniciais. Esse mistério, muitas vezes, se torna virtude.
Luz Néon
Os 23 contos do volume vêm divididos em três grupos. As histórias são líricas, eróticas e, às vezes, se aventuram pelo poema em prosa. A poesia, aliás, está presente nessa prosa curta e funciona como luz néon na noite — norteia, pisca, mas não cega. A descoberta do sexo na infância, o duro aprendizado da vida, os conflitos do amor na maturidade, o êxtase, o delírio, a perplexidade: tudo forma, como tijolos, um edifício pessoal, de grife. Os títulos são originais, curiosos “Extinção dos Jacarés”, “Felicidade em Dó Menor”, “Relato das Taturanas”, “Matemática Bufa”. E o autor acaba fazendo, como pede o gênero, o lúdico essencial — reescreve Machado de Assis (“Missa do Galo”). Uma pequena amostra de que ele poderá voar mais alto brevemente no seu gênero inicial ou na novela, quem sabe no romance.
Nelson Vasconcelos, como João Gilberto Noll, também percebeu, nas entrelinhas, o talento de Alexandre Brandão (“A musicalidade deste livro não é para ser plugada em alto volume. É intimista, merece recato e falta de pressa.”)
O autor lança “Contos de Homem”, brevemente, em Passos. Depois autografa no Clube Ginástico, no Rio.
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