Aos amigos do Zé Feio e da Cantina (bares que não existem mais, pouco importa, pois quem escreveu o poema também já não bebe).
Uns vão à missa,
nós ao bar.
Eles comem hóstia,
nós torresmo.
Pai nosso que estais no céu...
Bar nosso dai-nos a paz!
Uns vão malhar,
nós ao bar.
Eles correm os pés,
nós os olhos.
Um, dois, três, quatro...
Uma, duas, a terceira, a quarta!
Eles passando ao nosso lado,
nome do pai, corrida acelerada:
"nossos filhos não serão vossos,
nossas filhas não serão vossas,
não".
Nós coração de galinha,
cerveja, cana pura,
inchaço do fígado:
"vossos filhos já são nossos,
huuuuuum!".
Uns voltam ao lar,
nós ao bar.
Eles assistem televisão,
nós, aos sonhos.
Será que acabam juntos?...
Beijos, purrinha.
Uns voltam à mesmice,
nós ao bar.
Eles ao mesmo de ontem,
nós ao mesmo de amanhã (?).
Despertador, ovos cozidos,
Talvez, talvez...
Viva! gritam quando presos somos.
O delegado nos forçando a ressaca que não temos.
Viva! na cela há sempre uma birita.
Canções aflitas pra se cantar nós temos.
Uns vão tratar-se,
nós ao bar.
Eles eternos,
nós efêmeros.
Uns vão matar-se,
nós ao bar.
Eles infelizes,
nós lá, lá, lá, lá.
(publicado no Suplemento literário de Minas Gerais, em 19/03/1988. Fac-símile abaixo)
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