O Papa boa gente disse que o inferno não existe, um passo
além do que o anterior, homem um tanto quanto antipático, havia afirmado: o
limbo, o escuro reservado às crianças que morrem pagãs, não passava de uma
invenção. Me pergunto: seria possível existir o céu sem a existência do inferno?
O princípio cristão não está atrelado ao bem e ao mal? O céu aguarda os bons; o
inferno, os maus.
Se não estou enganado, ao negar o inferno, a Igreja dá
indicativos de que o céu tampouco existe, quer dizer, não existiria o tal céu
paradisíaco, nossa morada definitiva. (O céu sobre nossas cabeças meus olhos
alcançam todos os dias, e com ele — suas cores, sua limpidez, sua escuridão,
seus enfeites — me espanto com frequência.)
Estamos à porta de uma revolução, concluo. A Igreja, que tanta
influência tem em nossas vidas, de repente diz: esqueçam essa falsa dicotomia e
libertem-se do maniqueísmo a ela atrelado. Num momento em que os conservadores
arregaçam as mangas e tentam levar o mundo para o ponto em que se sentem
confortáveis, o fim do céu e do inferno alteraria a compreensão do que é
liberdade. Não seria pouca coisa.
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