Cheguei ao Rio no dia 5 de março de 1980. Vim depois de
passar as férias em Passos, mas eu já não morava lá, saí de minha cidade em
1977, mudando-me para Belo Horizonte.
Um dia talvez eu escreva alguma memória sobre esse período,
mas hoje minha intenção é apenas justificar porque, na efeméride dessa data,
resolvi lançar um livro de poesia.
O fato é que a poesia foi minha primeira manifestação
artística. Ainda criança, fazia musiquinhas e, um pouco mais tarde, compunha
músicas bem precárias. Dessa experiência o que ficou foi a poesia.
Em 1986, minha irmã Patrícia trabalhava na Imprensa Oficial
de Minas Gerais, e ali se fazia (e ainda faz, creio) o Suplemento Literário de
Minas Gerais. Ela sabia que eu escrevia, conhecia minhas músicas. Como lá no
Suplemento circulava um conterrâneo nosso, o premiado poeta Antonio Barreto, a
Paçoca levou um material para ele avaliar. Acho que mandei uns cinco ou seis
poemas. Passado um tempo, recebi tudo de volta com anotações (tenho tudo em
casa, sabe-se lá onde). Mais surpreendente, três foram publicados.
Quando me derramo de agradecimento ao Barreto, ele diz que
não teve essa de QI, não. Seu relato é que os poemas foram parar nas mãos de
pareceristas e a decisão final foi sugerir a publicação de três. Seja como for,
considero o mestre Barreto um dos meus padrinhos literários. Ele, o Noll (que
fez o prefácio de meu primeiro livro, Contos de homem) e o Marco Túlio Costa
(que me inventou cronista).
Para comemorar meus 40 anos de Rio, pensei em escrever uma
série de crônicas memorialistas, mas, quando dei por mim, não teria tempo para preparar
um livro a ser lançado em 5 de março de 2020. É uma tarefa hercúlea para um
sujeito desmemoriado e que não dá muito valor ao que viveu. As duas coisas
indicam que produziria um péssimo livro.
Quando estive na Feira Internacional do Livro de Ribeirão
Preto (Gilberto Abreu, outro conterrâneo, meu ex-professor de história e
escritor admirável, foi o homenageado), eu, Alexandre Marino e Nádia Monteiro
trocamos umas figurinhas e eles se prontificaram a ler minhas poesias. Foi uma
coisa linda e uma força danada. Depois pedi outras leituras (com respostas
igualmente lindas), de Adriane Garcia e Alberto Bresciani. Isso sem contar o
próprio Eduardo Lacerda, editor sensível, com pendores claros para a escrita e
a edição de poesias.
Se tenho um livro de poesia, ora, façamos de seu lançamento
a comemoração dos meus 40 anos na cidade maravilhosa, mas feia; de cultura
inclusiva, mas de segregação; da beleza dos corpos, mas de clima infernal.
É um livro bom? Olha, todo escritor é vaidoso, mas eu, no
caso da poesia, sou menos (já como contista e cronista, nem digo). Isso quer
dizer que estou mais preocupado com a comemoração do que com a qualidade da
poesia (todo escritor é mentiroso). De todo modo, acho que tem alguma coisa
bacana, sim, ao lado de poemas menores, ruins de verdade. Na realidade, em tudo
que faço (fazemos?) há essas duas porções. Passados 25 anos desde o lançamento
de meu primeiro livro, já não alimento grandes ilusões. Escrevo porque quero
falar com meu tempo.
Assim será. Ainda que formalmente não dedique meu livro a
esses caras que me deram a força inicial, o livro é deles, em especial do
Barreto.
#nenhumapoesiaumaantologia
Lançamentos:
15/02, em São Paulo (na Patuscada, Rua Murat, 40, Vila Madalena).
05/03, no Rio de Janeiro (local por ser definido).
Já em pré-venda. |
4 comentários:
Me lembro direitinho da época em que conversei com o Barreto sobre suas escrivinhações. O tempo passa viu e fico feliz por ter feito essa ponte com o Suplemento Literário para você. Deu no que deu. Um grande escritor e poeta. Adoro seus poemas.
Te desejo sucesso e saiba que a torcida é sempre grande por você.
Bjs., aguardando, ansiosa, pelo livro de poemas. Qual o link para comprá-lo mesmo?
Paçoquinha, te devo essa, graças a você aconteceu a minha primeira publicação.
Quanto ao link: https://www.editorapatua.com.br/produto/114493/nenhuma-poesia-uma-antologia-de-alexandre-brandao.
Alguma hora vou lançar em BH, vejamos quando.
Não existe QI; o negócio é estar com tudo prontinho na hora certa de entregar aos leitores, sejam eles críticos ou admiradores.E um brinde à sua bondade em continuar admirando o nosso Rio de Janeiro. Bonne santé, ou melhor, meus encômios.
Obrigado, Dag(nunca)mar. E você está se exibindo com essas palavras estranjas aí.
Postar um comentário