Na zoologia dos escribas, há o cronista cansado, que, ao contrário do sem assunto, tem muito a dizer, mas não tem fôlego. Sendo assim, desconversa, cochila entre vírgulas e economiza diálogos.
— Não!
— Sim.
— No duro?
— Da cebola.
E o leitor que se esforce para saber se falavam mal do
presidente, do ponta-esquerda do Bangu ou se viajavam de um ácido ingerido no
verão de 1968 e que, do nada, bateu de novo. Ele que se levante da cadeira e,
pela janela, veja o que acontece na rua e descubra a crônica não escrita,
sequer rascunhada.
O cansaço não é como a manga, que tem qualidade, ou como o
automóvel, que tem marca. Assim mesmo, é fibroso, pode fundir e, quando baixa
no lombo do cronista, faz do pobre coitado um procrastinador contumaz, encurtador
de frase e espichador de silêncio. Daí, o cronista cansado, só de pensar, sua
e, para não piorar, deita-se de conchinha com o vento do ventilador e conta no
máximo até dois para não ficar esgotado.
Sou desse espécime, ainda que tenha de esclarecer que... ah,
outro dia me explico. Outro dia, mas não fujo de cumprir a função social do
cronista, qual seja, preencher um pouco mais a folha em branco. Saio de
mansinho deixando um poema um tanto quanto melancólico.
O peixe e o nada
O que do rio se pesca,
o peixe e o nada,
nada por nada,
nada por nadar.
Cumprindo a vida, o peixe
ocupando espaço, o nada.
Jantamos o peixe
depois de almoçados pelo nada,
2 comentários:
Gostei da expressão "espectador de silêncio",
Belo título pra uma
Coletânea
Valeu, Caio. Pensarei a respeito, hein?
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