No domingo passado, o resultado das urnas deixou meio mundo abestalhado. No caso da presidência, a ordem dos candidatos seguiu o que vinham apontando as pesquisas, mas o percentual do atual ocupante do cargo foi maior do que o esperado. Não creio que tenha sido um erro, assistimos, isso sim, a um antipetismo abandonar na última hora a terceira via, particularmente a canoa de Ciro Gomes, que teve menos votos do que se indicava. Nas casas legislativas, particularmente no Senado, a extrema direita chegou com força, dando mandato a figuras que parecem mais caricaturas do que outra coisa, razão pela qual são perigosas. A pauta moralista terá representantes vociferantes.
Na segunda-feira, oscilando entre o desânimo do resultado e a necessária força para encarar os dias até o segundo turno, passamos a trocar conversas, nos fazer afagos, nos empurrar adiante. Haja prego para cortar! Os últimos quatro anos foram trágicos, este mês não será nada fácil, e os próximos quatro anos, independentemente de quem seja o vencedor, serão igualmente difíceis. É claro que, se o mandatário de plantão ganhar, seu projeto de destruição se alastrará, pois os boquirrotos da extrema direita ajudarão a passar a boiada enquanto nós estaremos lutando para nos manter vivos (fugindo de bala das armas que estarão espalhadas por aí), em pé, com alguma força que nos leve ao futuro.
Tenho filhos jovens e, no embalo da desilusão momentânea, soltei um “caiam fora”. É uma saída covarde, mas viver num país que já é pária mundial — e será pior ainda num possível segundo mandato do despresidente — é duro demais.
Se a oposição ganhar, com todos os problemas a serem enfrentados (a situação social herdada, um congresso hostil e as pressões das várias forças coligadas), travaremos embates que poderão clarear o futuro imediato (combate à fome, às diferenças de renda, definição de uma política de segurança e tantas outras) e — colocando a questão ambiental como o ponto nevrálgico das decisões políticas — também o mais distante. Nesse cenário, gostaria de ver meus filhos, também a mim, incluídos.
Os jovens têm papel preponderante no que está em jogo, no que virá depois e devem pensar bastante antes de escolher. O atual despresidente não deu sinais, foi claro e evidente: não gosta de trabalhar, menospreza a vida (basta observar suas atitudes durante a pandemia, ou sua crença de que as armas diminuirão a violência, uma inverdade que a ciência tem demonstrado à exaustão), faz do espaço laico do estado um altar para várias religiões, que, por sua vez, cultuam um deus terreno demais e se aprazem com as benesses do dinheiro. E, ainda que a economia dê sinais de melhora (inflação e desemprego em queda), sua gestão lançou quase metade da população do país na fronteira da fome (impossível fazer as três refeições do dia), da qual trinta e três milhões não têm o que comer. Ele alardeia muito o auxílio dado aos mais pobres, mas foi uma ajuda arrancada a fórceps (assim como a compra das vacinas contra a Covid-19), com empenho do legislativo e pressão da sociedade. A situação da educação, por sua vez, é calamitosa.
Os mais velhos, além de considerar tais aspectos, temos de nos lembrar de que o caminho trilhado por este país tem sido árduo. Carregamos passivos históricos (a escravidão que é presente no racismo, a impunidade aos que transgrediram as leis e, em nome de uma ditadura, torturaram e mataram), então não é mais justificável que demos a direção do país àqueles que exaltam a sombra e por ela transitam. Menos justificável ainda fazer isso por meio do voto, direito conquistado a duras penas.
E a corrupção? Nosso sistema político, em vez de inibir, facilita os desvios. O PT transgrediu, e muita gente foi punida. Lula é inocente (e não há meio termo nisso, a despeito do que eu ou você possamos pensar). O despresidente também é, ainda que haja casos de corrupção em seu governo (na compra de vacinas, no Ministério da Educação, no tal orçamento secreto) e sobre ele e sua família pesem suspeitas fortes, quase evidências. Portanto essa questão grave, da corrupção, será combatida aos poucos, com a nossa pressão. Acreditar que, nesse aspecto, o lado hoje no poder é bom e o outro, ruim, é ser ingênuo demais. Eleitores ingênuos geram déspotas, e não queremos mais isso. O voto não é tudo na democracia, mas é o seu feito simbólico e o momento evidente de nossa participação. Se vamos votar entre o obscuro e aquele que pode nos dar chance e fôlego de mudar as coisas, vamos com o segundo, o que está na oposição.
2 comentários:
Ai Alexandre, que clareza! Temos 20 dias duríssimos pela frente, vamos lá. Não dá pra perder dessa vez...
👆Bia, sua prima. Não sei por que apareci "anônima"...
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