6.12.20

A caça (publicado em Contos de homem, livro de 1995)

A mata é hermética. O sol, quando consegue penetrá-la, é um fio, um frio facho de luz.

O que faço aqui? Caço. Comigo levo meu cão, minha arma, o saco para depositar a caça.

Lá vem um bicho. Tum, tum ...

Guardo o elefante.

Minha mãe chega, senta-se na cadeira, perto da mesa, perto da churrasqueira, perto de meu pai. Aproximo-me deles, sirvo-lhes, em bandeja de prata, o elefante temperado. Com o susto, infartam.

Pais ...

A mata cada vez mais fechada, um breu. Os morcegos tentam atacar-me. Primmm ...

Minha mulher chega do cabeleireiro. Está linda, o cabelo como um bolo de festa. Dou-lhe um beijo, prendo-a em meus braços, solto em suas costas os morcegos. Descabelando-se, atira-se pela janela. Plaft seco e buzinas fanhas engarrafam o trânsito.

Mulher ...

No meio da selva, assusto-me com um rio. Lanço nele rede, isca, vara, anzol. Pesco um tubarão.

As crianças acordam ansiosas pelo aquário novo. Enquanto se distraem com os peixinhos, desfaço a armadilha, cai do teto o tubarão. Como a água corre para o ralo, as crianças se jogam nos dentes da fera, que em um último impulso as devora,

Crianças ...

Morreu o cão. Perdi a arma.

Para lá ou para cá. Mata sem fim. 

Caçador...

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