11.9.09

Brasil – il – il – il

                                        
                                 (bigode retirado de: http://justwrappedupinbooks.wordpress.com/2009/08/02/sob-o-dominio-do-bigode/)

             

 Se algum dia fizerem antologia do cronista sem assunto, verão que todas as crônicas escritas nesse dia são iguais. Falamos coisa do tipo: hoje não haverá crônica, ou: a de hoje, só amanhã.


Neste exato momento, não consigo dar um exemplo concreto, mas arrisco a dizer que, do cronista maior ao cronistinha de uma figa, todos, quando tropeçamos, tropeçamos da mesma forma.


Isso não quer dizer que o talento se iguale nesse instante de fracasso. Um tombo de um Drummond tem o estilo do poeta; o meu, por sua vez, é só a queda desse corpanzil que cresceu, apareceu e ficou feiinho, feiinho.


Porém, neste país, assunto é o que não falta. Podem jogar os parágrafos anteriores fora, não servem pra nada.


Giro minha câmera pro Senado. Não, aí é covardia, e tenho poucas linhas, espaço insuficiente pra dizer tudo que está borbulhando por lá. De todo jeito, só de relance, vi aquilo que meus olhos preferiam não ver.


Vamos pra outro lado. O pessoal da cultura tem trabalhado com nota fria? Oh, meu Deus, que novidade! Só na cultura, é? Será que somos chegados a um desvio ou o sistema é que joga todo mundo no limbo? Deixa isso pra lá, mal saiu a notícia no jornal, no outro dia já se dizia que as empresas tomaram juízo, está tudo resolvido, uma beleza. Sou a velhinha de Taubaté que, depois de ver tantas sarneiras, ficou cega — de nascença.


Meninas passam pra cá, passam pra lá. Passam pra lá, passam pra cá. São pêndulos de relógios? Marcam que espécie de tempo? Essa crônica bem poderia chafurdar no lirismo, ficar na cola da beleza, ou falar do Nadinho da Ilha, que morreu dia desses, mas... 


A gripe suína está tirando todo mundo do sério. A gente anda com tanto medo, que esconde espirro, quando não prende. Tente espirrar em público. Todos os rostos se voltam contra você. Aliás, meu conselho é que, ameaçou espirrar, ligue para esse 0800 do Estado e, primeiro, peça desculpe e, depois, aproveite para perguntar se o seu atchim está condenado.


Seria bom viver num país em que faltasse assunto pra crônica! Eu poderia fixar-me no pêndulo desenhado pela beleza das meninas, homenagear o Nadinho, com quem dividi alguma mesa de bar e de quem vi o talento em ação, ou falar da Serra da Canastra (veja a foto). Lá, o São Francisco nasce chiquito, chiquito. Ao contrário dos problemas do Brasil, que nascem grandes e ficam enormes.


Não tenho medo de cara feia, mas acho que o Pedro Simon fez bem em ter.






                                        (Foto de Alexandre Brandão)