26.1.08

Santomé

Tudo indica que Lula tem apenas quatro dedos em uma das mãos.

Sarney ostenta um enorme bigode. Não é?

Jobim tem vestido roupas do exército. É o que se vê na tevê.

Quércia é alto. Afirmo com quase 100% de certeza.

Aécio é neto do Tancredo, atesta seu registro de nascimento.

Cabral saiu ao pai, pelo menos na bochecha, assim suas aparições levam a crer.

César Maia traja invariavelmente um casaquinho xexelento. De longe, assim é: casaquinho e xexelento.

Roberto Jefferson emagreceu graças à redução do estômago. Li.

FHC ensina na Brown University. Ele mesmo frisa isso em seus artigos.

É possível checar na internet as mortes do Covas, do Ulisses, do próprio Tancredo, a do Magalhães Pinto e a do ACM também.

Pedro Simon fala com paixão. José Dirceu, com frieza. Renan, dissimuladamente.

Ângela Guadagnin bailou quando seu partidário foi livrado de perder o mandato. Marco Aurélio Garcia mandou uma banana quando o desastre com o avião pareceu ser culpa do piloto, não dos controladores de vôo. Collor voltou à tribuna. Vi com estes olhos que a terra há de comer.

Heloísa Helena gosta de uma camisetinha básica. Babá não corta o cabelo. Chico Alencar corta, às vezes. A mensagem perseguida por eles é: diante de tantos problemas, nada de preocupação excessiva com a aparência.

Eduardo Paes muda de roupa e de partido sem pestanejar. Gabeira não usa mais tanga, nem se candidata a prefeito. O primeiro ocupa a mídia; o segundo, pouco, nunca mais como dantes.

Político é engraçado. Vive nos pedindo para lhe darmos um voto de confiança, para acreditarmos que aquilo de que é acusado, tal e tal falcatrua, é intriga da oposição. O tiro pode sair pela culatra: qualquer dia, o brasileiro deixa de diferenciar uns dos outros, e todos passam a ser farinha do mesmo saco. Pior ainda: deixa de acreditar até no que é visível, audível e legível.




Vai que o Covas está vivo. O Lula tem seis dedos. O Simon adora camisetas básicas. A Heloísa Helena troca de roupa e de partido só pensando em ser prefeita. O Quércia é baixinho. O Gabeira não corta os cabelos. O Aécio é neto do ACM. O Cabral corta os cabelos de vez em quando. O Collor tem grandes bochechas como as de seu pai. O Renan deixou de usar tangas. O Eduardo Paes morreu num desastre aéreo. O FHC diminuiu o estômago. O ACM morreu há anos e o Magalhães Pinto, num dia desses. O César Maia dança para comemorar quando seus partidários livram a cara.

Se deixarmos de acreditar até naquilo de que não se pode duvidar, o país vai pro beleléu. Por vinte anos estivemos lá, e não foi bom. Como talvez dissesse o pessoal do Casseta: “Seu político, roube, mas não minta; a mentira tem perna curta”.

7.1.08

Chicle de Bola



Desce a Voluntários da Pátria, masca chicletes e o mundo dos homens, cachorro eficiente, morde e não ladra. O Iraque está lá aos frangalhos, e a fome, como sempre, espalhada por toda a África. No Brasil, bem, deixemos este país com o qual não temos intimidade longe do circuito Gávea, Leblon e Botafogo.



A mulher e seu chiclete não são metáforas de nada. São apenas o que são: ela linda; ele, doce. Ela, descendo a Voluntários; ele, amassado entre dentes.



Se pinta um problema, a moça faz bola. A bola é uma casquinha de goma com ar dentro, coisa frágil, frágil, que não dura dois passos da mulher-agora-com-pulga-atrás-da-orelha.





O problema dela não tem a ver com a tragédia iraquiana ou com a africana; poderia ter, mas nesse instante não tem. Não é também minha indiferença por ela, porque, se há indiferença, é dela por mim, um desconhecido com quem esbarra em Botafogo, na rua pavimentada hoje e cheia de irregularidades amanhã. Não é o prefeito que a está incomodando. O que será?



Todo chiclete perde seu docinho. Em moleque, quando o que eu mascava se avizinhava do fim, enfiava-o no congelador — não sei se ganhava uma sobrevida, um “plus a mais” de doce, mas é o que diziam e eu acreditava. Sorte a do meu pai, levava mais tempo para lhe pedir outro tostão.



É o fim do chiclete que está pegando? Não, não há congelador no meio da Voluntários e, mesmo se houvesse, seria preciso que a goma congelasse totalmente para ter de novo o seu gosto, se é que ele volta. Será o Benedito que ela não tem um vintém, dez pratinhas em moedas de um centavo perdidas na bolsa? Se for dinheiro, bem poderia adiantar-lhe algum, nem fazia questão de recebê-lo de volta. Se muito, armava um estratagema para reencontrá-la:”Toma vinte centavos; amanhã a gente se vê aqui mesmo para você me pagar”.




A moça masca chiclete. A mim resta a dúvida: hortelã ou tutti frutti? Será de canela ou desses surpreendentes dos dias de hoje: melancia, maracujá? É uma dúvida, não mais do que isso; meu problema, problema mesmo, é outro, e só a moça que caminha mascando seu chicletinho resolve. Basta que ela deixe a Voluntários, entre comigo na livraria ao lado do cinema, aceite o café e um naco de bolo que lhe oferecerei, responda ao meu sorriso e, com jeitinho tímido ou arrogante, pouco importa, tire o chiclete da boca, jogue-o no lixo e, olhando talvez para mim, talvez para alguma coisa que posso chamar de infinito, diga: pronto!