21.6.09

Não se deve dar as costas aos poetas


Escrevi a última crônica (No Jardim Botânico). Saiu na revista Folha Carioca, depois veio para a internet (neste blog e também no Opinativas). Recebi elogios, inclusive de dois poetas. Um lá do Pará, meu amigo Edson, sujeito que está prometendo aterrissar aqui no Rio em fevereiro — demora, mas é menos do que nunca, ou mesmo de um não sei quando. Outro foi o homem que orelhou meu último livro, o danado do Barreto (que tem tantos nomes quanto prêmios literários – ora é Barretúmero, ora é Barretim, ora Seu Barreto, ora Barrevento, ora, bem, leitor, já deu pra entender a idéia, não? Invente o nome que quiser para o grande poeta que ele é. Para quem não sabe, ele está ali na foto comigo).

A coisa com o Barreto foi diferente e é o motivo de eu voltar à crônica aqui “No Osso”. Foi assim: o poeta me escreveu logo pela manhã. Disse assim: “Xandão, li sua crônica e achei uma delícia!
Me senti lá dentro do Jardim Botânico! Como você consegue isso?” A partir disso, como o biscoito em Proust, a crônica parece que transportou meu amigo lá pras profundezas de suas recordações e o fez lembrar dele mesmo passeando com a filha (que já é médica) num parque de BH. Ótimo, fiquei envaidecido.

Passou o tempo, recebo novo e-mail do poeta. Agora dizia: “Xandão, relendo sua bela crônica, me ficou um pequeno ruído... algo que ficou me atazanando e aí fui tomar banho e fiquei pensando em te sugerir o seguinte: tirar essa parte ....”. (Daqui a pouco, leitor, você descobre o que foi cortado.)

Meu primeiro impulso foi o seguinte: por que será que os poetas tomam banho? A poesia já não os limpa suficientemente? Havia uma suspeita (despeitosa) de que, ao banhar-se, o poeta cuidava de coisas distintas de sua poesia e, entre uma passada de bucha e outra, tirava o cisco do texto alheio.

Quase caí num orgulhoso perigoso, mas de pronto me recuperei. Ora, ora, poeta calejado quando dá de dar pitaco na palavra alheia só pode ser porque gostou do que leu. Sendo assim, republico a crônica com o corte sugerido pelo poeta. Aproveito para aceitar sugestões de minha irmã atenta, Teresa Cristina.

O fato de ter escrito este post tem a pretensão de mostrar duas coisas. Uma: minha caminhada no Jardim Botânico fez bonito. Outra: escrever é reescrever, e feliz daquele que tem leitores sensíveis e atentos. Ando tendo.


No Jardim Botânico – versão corrigida

Uma caminhada no Jardim Botânico equivale a uma sessão de yôga, ou de yoga como se dizia no tempo em que eu não sabia exatamente que sexo poderia gerar filhos — sabia, mas não acreditava.

Uma caminhada no Jardim Botânico num dia não muito ensolarado, tampouco fechado, pode deixar na gente — na memória que teremos no futuro, quando nossos filhos forem eles mesmos senhores e senhoras com vidas próprias e, se Deus quiser, independentes e bem encaminhados — algum gostinho de felicidade tão carregado, que poderemos mesmo imaginar que fomos, dentro e fora do Jardim Botânico, felizes, completamente felizes.

Pisar descalço o chão do Jardim Botânico, como vi um jovem fazendo no último domingo em que estive por lá, deve ser o grito mais veemente que conseguimos dar contra a tendência do mundo em nos distanciar da terra, do fogo, da água e do ar. Aquele rapaz, garanto sem conhecê-lo, sabe ser feliz quando quer: basta tirar os sapatos e pisar a terra úmida do parque.

Sentar num banco do Jardim Botânico numa manhã de maio, em pleno domingo das mães, ao lado da irmã, pode apaziguar as dores que sozinhos, o irmão e a irmã, não suportariam mais ter. As árvores dali, estrangeiras e nacionais, entendem dessa coisa de despoluir até o espírito mais sombrio.

Depois de uma caminhada que levou o desempregado à estufa das plantas carnívoras e a debutante, um pouco cansada, à beira do lago das vitórias-régias, a bica, pequena e elegante peça de metal bem aducido e corretamente coado, dará água fresca a quem já tem, a sua volta, toda espécie de sombra. Não vai nesse gesto do bebedouro nenhuma intenção de iludir o desempregado ou a jovem pensando-se vítima do maior cansaço do mundo, mas, fresca e fluida, a água ensinará sem querer que a generosidade mata a sede quando não escorre pelas mãos.

Pais e filhos, concebidos ambos na brasa do desejo ou na assepsia dos laboratórios, jogam folhinhas no riacho e vão correndo ao lado acompanhando aquela corrida de Fórmula 1 vagarosa e vegetal. Há uma bateria, depois uma segunda, e haverá outras até que a criança saia dali campeã. No Jardim Botânico, a simplicidade é sempre verde e imatura.

Vez ou outra o chão ficará enlameado. Vez ou outra alguma árvore o vento derrubará. Vez ou outra os esquilos cairão viciados em pipocas. Vez ou outra um estudante de artes plásticas errará a mão e não tracejará nada que se assemelhe ao que está por todo o lado. Por fim, poucas fotografias tiradas ali, aos milhares ou milhões, em alguma contagem do tempo não muito dilatada, terão a qualidade que o parque merece.

Vez ou outra um cronista menor compreenderá o mundo dinâmico que, entre ramagens, águas, pessoas e aves, o silêncio do parque guarda.


18.6.09

No Jardim Botânico

Uma caminhada no Jardim Botânico equivale a uma sessão de yôga, ou de yoga como se dizia no tempo em que eu não sabia exatamente que sexo poderia gerar filhos — sabia, mas não acreditava.

Uma caminhada no Jardim Botânico num dia não muito ensolarado, tampouco fechado, pode deixar — na memória que teremos no futuro, quando nossos filhos, filhos de nossas relações sexuais ou não (pois hoje já não se faz filho apenas com relações sexuais), forem eles mesmos senhores e senhoras com vidas próprias e, se Deus quiser, independentes e bem encaminhados — algum gostinho de felicidade na gente tão carregado, que poderemos mesmo imaginar que fomos, dentro e fora do Jardim Botânico, felizes, completamente felizes.

Pisar descalço o chão do Jardim Botânico, como vi um jovem fazendo no último domingo em que estive por lá, deve ser o grito mais veemente que conseguimos dar contra a tendência do mundo em nos distanciar da terra, do fogo, da água e do ar. Aquele rapaz, garanto sem conhecê-lo, sabe ser feliz quando quer: basta tirar os sapatos e pisar a terra úmida do parque.

Sentar num banco do Jardim Botânico numa manhã de maio, em pleno domingo das mães, ao lado da irmã pode apaziguar as dores que sozinhos, o irmão e a irmã, não suportariam mais ter. As árvores dali, estrangeiras e nacionais, entendem dessa coisa de despoluir até o espírito mais sombrio.

Depois de uma caminhada que levou o desempregado à estufa das plantas carnívoras e a debutante, um pouco cansada, à beira do lago das vitórias-régias, pequena e elegante peça de metal bem aducido e corretamente coado, a bica dará água fresca a quem já tem, a sua volta, toda espécie de sombra. Não vai nesse gesto do bebedouro nenhuma intenção de iludir o desempregado ou a jovem pensando-se vítima do maior cansaço do mundo, mas, fresca e fluida, a água ensinará sem querer que a generosidade mata a sede quando não escorre pelas mãos.

Pais e filhos, concebidos ambos na brasa do desejo ou na assepsia dos laboratórios, jogam folhinhas no riacho e vão correndo ao lado acompanhando aquela corrida de Fórmula 1 vagarosa e vegetal. Há uma bateria, depois uma segunda, e haverá outras até que a criança saia dali campeã. No Jardim Botânico, a simplicidade é sempre verde e imatura.

Vez ou outra o chão ficará enlameado. Vez ou outra alguma árvore o vento derrubará. Vez ou outra os esquilos cairão viciados em pipocas. Vez ou outra um estudante de artes plásticas errará a mão e não tracejará nada que se assemelhe ao que está por todo o lado. Por fim, poucas fotografias tiradas ali, aos milhares ou milhões, em alguma contagem do tempo não muito dilatada, terão a qualidade que o parque merece.

Vez ou outra um cronista menor compreenderá o mundo dinâmico que, entre ramagens, águas, pessoas e aves, o silêncio do parque guarda.

12.6.09

"A câmera e a pena" em novas livrarias

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