15.1.20

40 anos no Rio

Cheguei ao Rio no dia 5 de março de 1980. Vim depois de passar as férias em Passos, mas eu já não morava lá, saí de minha cidade em 1977, mudando-me para Belo Horizonte.

Um dia talvez eu escreva alguma memória sobre esse período, mas hoje minha intenção é apenas justificar porque, na efeméride dessa data, resolvi lançar um livro de poesia.

O fato é que a poesia foi minha primeira manifestação artística. Ainda criança, fazia musiquinhas e, um pouco mais tarde, compunha músicas bem precárias. Dessa experiência o que ficou foi a poesia.

Em 1986, minha irmã Patrícia trabalhava na Imprensa Oficial de Minas Gerais, e ali se fazia (e ainda faz, creio) o Suplemento Literário de Minas Gerais. Ela sabia que eu escrevia, conhecia minhas músicas. Como lá no Suplemento circulava um conterrâneo nosso, o premiado poeta Antonio Barreto, a Paçoca levou um material para ele avaliar. Acho que mandei uns cinco ou seis poemas. Passado um tempo, recebi tudo de volta com anotações (tenho tudo em casa, sabe-se lá onde). Mais surpreendente, três foram publicados.

Quando me derramo de agradecimento ao Barreto, ele diz que não teve essa de QI, não. Seu relato é que os poemas foram parar nas mãos de pareceristas e a decisão final foi sugerir a publicação de três. Seja como for, considero o mestre Barreto um dos meus padrinhos literários. Ele, o Noll (que fez o prefácio de meu primeiro livro, Contos de homem) e o Marco Túlio Costa (que me inventou cronista).

Para comemorar meus 40 anos de Rio, pensei em escrever uma série de crônicas memorialistas, mas, quando dei por mim, não teria tempo para preparar um livro a ser lançado em 5 de março de 2020. É uma tarefa hercúlea para um sujeito desmemoriado e que não dá muito valor ao que viveu. As duas coisas indicam que produziria um péssimo livro.

Quando estive na Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto (Gilberto Abreu, outro conterrâneo, meu ex-professor de história e escritor admirável, foi o homenageado), eu, Alexandre Marino e Nádia Monteiro trocamos umas figurinhas e eles se prontificaram a ler minhas poesias. Foi uma coisa linda e uma força danada. Depois pedi outras leituras (com respostas igualmente lindas), de Adriane Garcia e Alberto Bresciani. Isso sem contar o próprio Eduardo Lacerda, editor sensível, com pendores claros para a escrita e a edição de poesias.

Se tenho um livro de poesia, ora, façamos de seu lançamento a comemoração dos meus 40 anos na cidade maravilhosa, mas feia; de cultura inclusiva, mas de segregação; da beleza dos corpos, mas de clima infernal.

É um livro bom? Olha, todo escritor é vaidoso, mas eu, no caso da poesia, sou menos (já como contista e cronista, nem digo). Isso quer dizer que estou mais preocupado com a comemoração do que com a qualidade da poesia (todo escritor é mentiroso). De todo modo, acho que tem alguma coisa bacana, sim, ao lado de poemas menores, ruins de verdade. Na realidade, em tudo que faço (fazemos?) há essas duas porções. Passados 25 anos desde o lançamento de meu primeiro livro, já não alimento grandes ilusões. Escrevo porque quero falar com meu tempo.

Assim será. Ainda que formalmente não dedique meu livro a esses caras que me deram a força inicial, o livro é deles, em especial do Barreto.

Um brinde!

#nenhumapoesiaumaantologia

Lançamentos: 

                    15/02, em São Paulo (na Patuscada, Rua Murat, 40, Vila Madalena).

                    05/03, no Rio de Janeiro (local por ser definido).


Já em pré-venda.

4 comentários:

Patrícia Pessôa disse...

Me lembro direitinho da época em que conversei com o Barreto sobre suas escrivinhações. O tempo passa viu e fico feliz por ter feito essa ponte com o Suplemento Literário para você. Deu no que deu. Um grande escritor e poeta. Adoro seus poemas.
Te desejo sucesso e saiba que a torcida é sempre grande por você.
Bjs., aguardando, ansiosa, pelo livro de poemas. Qual o link para comprá-lo mesmo?

No Osso disse...

Paçoquinha, te devo essa, graças a você aconteceu a minha primeira publicação.

Quanto ao link: https://www.editorapatua.com.br/produto/114493/nenhuma-poesia-uma-antologia-de-alexandre-brandao.

Alguma hora vou lançar em BH, vejamos quando.

Dag Bandeira disse...

Não existe QI; o negócio é estar com tudo prontinho na hora certa de entregar aos leitores, sejam eles críticos ou admiradores.E um brinde à sua bondade em continuar admirando o nosso Rio de Janeiro. Bonne santé, ou melhor, meus encômios.

No Osso disse...

Obrigado, Dag(nunca)mar. E você está se exibindo com essas palavras estranjas aí.