Não sei como é em outras cidades, mas no Rio de Janeiro os
fios que deveriam estar presos entre um poste e outro estão soltos. Às vezes,
ficam pendurados, quando não caídos nas calçadas. Com isso, caminhar — atividade
que sempre exigiu atenção redobrada pois os passeios, quase sempre
desnivelados, estão cheios de buracos — agora cobra atenção triplicada.
Tenho impressão de que esses fios não dão choque, caso
contrário já saberíamos de acidentes de toda sorte. Me parece que são os das
telefônicas, embora muitas delas façam cabeamento subterrâneo. Não sei se é
isso, não entendo nada dessas coisas. Graças a um trauma que conto a seguir,
tenho bloqueio com tudo relacionado a fio e eletricidade.
Minha prima ia se casar, então meu irmão e uns primos
começaram a furar o chão para gelar as cervejas (garrafa na terra coberta de
gelo e serragem). Trabalhavam à noite e chovia. Eu, menininho de tudo, fui dar
uma ajuda. Não tendo porte para empunhar uma pá e dar forma ao buraco, resolvi
pegar uma lâmpada para dirigir sua luz diretamente ao local do trabalho. Levei
um choque. Fiquei preso nela. Meu irmão, herói do dia, deu um soco na minha mão
e tudo se resolveu. Quer dizer, nem tudo. Primeiro tive de ir à farmácia fazer
um curativo na queimadura (meu pai me convenceu ao custo de um chocolate — sempre
fui barato), depois me desavim com a eletricidade. Troco lâmpadas e olhe lá.
Explicado o meu terror aos fios soltos, acrescento uma
questão estética. Não bastassem as ruas e calçadas esburacadas e os postes
cobertos de fios, estes, quando passaram a ser cortados, transformaram a Cidade
Maravilhosa em horrorosa. Para falar a verdade, nem consigo entender como uma metrópole
do porte do Rio pode não tê-los enfiado dentro das calçadas; é muito retardo
diante da tecnologia disponível. É caro? Telefonia e eletricidade não foram
privatizadas? Joga na conta das empresas.
Será que os fios são roubados? O sujeito vai lá, mete a tesoura e leva uma parte deles para passar a um atravessador. Vendem-se fios como se vendem bueiros, tampas de aços? Imagino que sim. A suspeita dos roubos recairá nos zumbis criados pelo vício, mas ouso pensar na responsabilidade de gente mais graúda nessa história. Ora, quem sou eu para suspeitar dos outros? No máximo, posso achar feio o resultado. E apontar o dedo para o prefeito e dizer: incompetente.
2 comentários:
Tem outras feiuras piores, mas enfim, vamos levando. E os turistas que vem aqui continuam voltando encantados.
Valéria, ninguém tira a beleza do Rio, mas que tem muito desleixo , tem. E, claro, há problemas maiores, infinitamente maiores.
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