4.12.19

História curta



Conto uma história curta. Na realidade, um crime. Um crime passional. Fim de uma paixão cujo início foi igual a todo início de uma paixão.

O casal se conheceu no carnaval, deitou-se nas cinzas, foi morar junto num maio esplendoroso, mais esplendoroso do que qualquer outro. Maio do amor. Maio da fúria. Maio único. E único maio.

Em setembro, ele, ao abrir a porta de casa, encontrou a mulher encolhida no sofá. Os dois se olharam. O olhar dele carregava o brilho do primeiro dia. O dela continha uma bruma, o amor fugira dali.

Foi o suficiente. Ou melhor: é o que se pode supor.

Ao arrombarem a porta, o que havia? Ela e ele mortos. Ela morta por ele. Ele morto por ele. Não se sabe nada além disso.

A vizinha do lado emprestara-lhes, no início de julho, uma cumbuca de açúcar. Considerava-os simpáticos, mas não os encontrara mais de duas vezes.

2 comentários:

Patrícia Pessôa disse...

Será que a vizinha recuperou o açúcar? História curta, profunda e dramática. Linda!

No Osso disse...

O açúcar acho que não, mas a cumbuca....